sexta-feira, 29 de agosto de 2008

DE CACHOEIRA À TABAJARA

ORIGEM DO NOME DO DISTRITO

Desde o final do século XIX que um pequeno povoado foi se formando no local onde hoje é Tabajara. A princípio, esse povoado era conhecido como Povoado da Cachoeira.
Havia ainda uma grande quantidade de guaxos (ave icterídea cujo nome científico é “cassicus haemorrhous affins”) e taquaras no interior da mata, motivo pelo qual também referiam-se ao local como Povoado dos Guaxos, além de gerar nomes como Conceição do Taquara, São José do Taquara, Arraial do Taquara etc.
Com o passar do tempo, a população foi crescendo sem nenhum nome ter sido oficializado para o lugar. Surgiram os primeiros líderes, como José de Souza, Paulino Leandro, Cezalpino Tavares (chefe do partido dos bacuraus), o Tenente Vieira, Fidelcino Vieira e Antenor Barbosa (chefe do partido dos caranguejos), entre outros.
No final da década de 10 do século XX, encontraram um veado morto no córrego que passa sob a ponte – hoje denominada de Ponte Antonino de Paula Pinto – que separa a Rua Antenor Barbosa da Avenida Lindolfo Barbosa Vieira. Resolveram, então, colocar o nome do povoado de Conceição do Veadinho.
Outra versão para tal denominação seria o fato de Cezalpino Tavares manter um pequeno veado preso em um chiqueiro, onde o povo ia vê-lo. Assim, de tanto as pessoas dizerem que iam ver o veadinho, acabaram por dizer que iam a Veadinho, transformando a palavra no nome do lugar.
Outra possibilidade para a origem desse nome é o fato de existirem muitos desses animais na região, naquela época.
Também não podemos desprezar a versão do falecido José Maquinista, que contava ter sido adotado o nome Veadinho em decorrência de uma família de caçadores que morava na cabeceira do Córrego Veadinho, propriedade que hoje pertence a seu filho Agnaldo. Essa família possuía vários veados presos em chiqueiros e acabou sendo conhecida pela alcunha de Veado, como é o caso de Antônio Tomáz de Paula (Antônio Veado), parente do Guaiás, do Córrego dos Guaiás. Seus filhos eram conhecidos como Zé Veado, Floriano Veado etc.
À medida que o lugar foi crescendo, os posseiros tiveram suas posses diminuídas, pois a procura por terras foi aumentando. A maioria das terras ainda era de propriedade do Estado.
Toda a região abaixo do Córrego do Veadinho era ocupada por José de Souza que não legalizou sua propriedade, passando mais tarde suas terras para os Bastiana. Esses, como já foi dito, eram carapinas (carpinteiros/marceneiros), construtores de casas, pontes, moinhos, carros de boi etc. Os Bastiana também só tiveram a posse das terras, sem nunca terem oficializado a propriedade através de documentos registrados em cartório. Assim, o local foi sendo ocupado de fato (posse), mas não de direito (propriedade), passando a fazer parte do povoado.
Como dito anteriormente, o povoado transformou-se em Distrito de Veadinho, em 07 de setembro de 1923, através da Lei Estadual nº 843. Na ocasião, ainda pertencia a Caratinga, mas com a emancipação de Inhapim em 1938, passou a pertencer-lhe.
Até o princípio da década de 40, o nome Veadinho nada tinha de pejorativo, mas no final dessa mesma década a palavra passou a ter conotação de homossexual. Então começou o sofrimento! Quando o time de futebol ia jogar fora, era obrigado a agüentar as gozações: “Os veadinhos já chegaram”, “Os veados estão em cima do caminhão” etc. No campo, a gozação era tão forte que desanimava os jogadores.



NEGANDO A PROCEDÊNCIA

Era preciso mudar o nome do distrito, pois o povo, envergonhado, chegava a mentir, dizendo que era de Belo Horizonte, Ipanema, Pocrane, Inhapim, Caratinga ou qualquer outro lugar, mas nunca de Veadinho. Entre os muitos tabajarenses que se mudaram daqui quando o nome ainda era Veadinho, temos dona Geralda Vaz. Eu mesmo também fiz muito isso, todos já fizeram. Ninguém dizia que era de Veadinho, era vergonhoso e os políticos de Inhapim nunca se importaram.
No final da década de 50, Ailton Barbosa liderou a luta para a mudança do nome do distrito. Em 1962, houve uma negociação com o Deputado Sebastião Anastácio de Paula e ele ficou encarregado de providenciar a mudança. Naquele corre-corre, não encontraram um nome que tivesse alguma relação com o lugar, mas era preciso mudá-lo a qualquer custo.
Pesquisa aqui, pesquisa ali, nada de aparecer um nome. Diante de toda aquela indecisão e do vai-e-vem do deputado, sua esposa – dona Conceição de Paula – criticou o marido (que havia sido pouco votado na região), dizendo: “Já vai você perder tempo com aquela gente, naquela terra de índios. Por que você não muda o nome para Tabajara? Assim o lugar vai ter um nome merecido, lá só tem índio!”
Resolveram então propor o nome que surgira daquela observação sarcástica. O pior é que o povo, inocentemente, aceitou. E olha que Conceição de Paula nascera em Tabajara!
Assim, o nome Tabajara nunca teve qualquer relação com o lugar, nem mesmo com a região. Foi um nome tirado do bolso de última hora. É claro que muito melhor do que o anterior. Tabajara designa o povo de uma nação indígena da Serra de Ibiapina, no Ceará. Daí a tese de que foi uma maneira de chamar-nos de índios.
No distrito, existem regiões com vestígios, não catalogados, de terem sido ocupadas por índios remanescentes dos Botocudos, como por exemplo os Krenaks ou Boruns, também conhecidos como Aimorés ou Puris, mas nenhum Tabajara.
No entanto, o que importa é saber que em Tabajara mora um povo muito acolhedor, humilde e hospitaleiro. Tabajara é para mim um “Cantinho do Céu”, um lugar sagrado, o meu torrão natal, onde está um pedaço de mim, por isso tenho muito orgulho em poder dizer que sou tabajarense.
Para quem ainda não conhece, vale a pena saber que Tabajara dista cerca de 64 km de sua sede, Inhapim. De um lado, é cercada por serras, montes e montanhas e, do outro, pelo Rio Manhuaçu, onde existe uma cachoeira com lindas paisagens. O local é freqüentado por visitantes, pesca-dores e banhistas durante todo o ano, tendo potencial turístico.