Esses casos, causos, histórias e estórias, foram escritos por acidente. Portanto, não estavam previstos para um livro. Na verdade durante minhas pesquisas no sentido de desenvolver o livro “De Cachoeira a Tabajara”, começaram a surgir essas histórias engraçadas. Conseqüentemente tive que agrupa-las, separadamente e contá-las nesse novo livro.
Em alguns personagens foram usados nomes fictícios, porém, sem a intenção de denegrir a quem quer que seja. Tanto é que alguns dos envolvidos são meus parentes. Se alguém se sentir ofendido, deixo aqui, um sincero pedido de desculpas.
FOI O VOVÔ POLINO
Nos anos de 1950, nas aulas de História, era praxe ensinar aos alunos sobre o descobrimento do Brasil. Inclusive, havia uma pergunta que não faltava - “Quem descobriu o Brasil” -. Certo dia durante uma daquelas aulas, a professora fez um breve comentário, sobre as dificuldades em que os primeiros desbravadores tiveram para ocupar as terras brasileiras. Que a locomoção dos mesmos, sertão adentro, havia sido feita à pé e ou no lombo de animais. Terminando com a famosa pergunta: “Quem descobriu o Brasil?” - Ivan do Sô Ló, cochichou nos ouvidos do Íris, dizendo: foi o vovô Polino. - Íris, imediatamente, levantou-se, fez pose de sabichão e caprichou na resposta. - Foi o vovô Polino - ainda acrescentou - montado na Diamantina-. Foi uma gargalhada geral. Iris passou a ser apelidado de Vovô Polino. Essa brincadeira o acompanhou até os últimos dias de sua vida.
CAPIM PRO RAIMUNDO COMER
Contam que certa ocasião, nos anos de 1930, Vieira Velho, mandou seu enteado, conhecido como Vicente da Maria Firmino, soltar um animal no pasto de seu filho Raimundo. Quando o Vicente partiu com o animal, em direção ao pasto, Raimundo Vieira estava por perto e perguntou-lhe, aonde ele ia com aquele animal. Vieira Velho que a tudo ouvia, explodiu, dizendo: - Volta com o animal Vicente, deixa o capim pro Raimundo comer.
BUZINA COM DEFEITO.
Minha avó materna, Maria Godinho Mendes ou simplesmente Maria do Polino, tinha uma personalidade muito forte, por esse motivo, meu avô, Paulino Leandro, costumava consulta-la, em alguns de seus negócios. Contam que em 1929, ocasião da inauguração da primeira ponte sobre o Rio Manhuaçu, em Tabajara e estrada Tabajara-Zé Pedro (Ipanema) foram trazidos alguns veículos para fazer parte da festa. Dentre tais veículos, havia uma Baratinha de propriedade de uma das filhas de Zeca Dorneles, que fora trazida especialmente para ser vendida a meu avô. Paulino Leandro gostou da idéia, mas precisava consultar a esposa. Antes de responder ela partiu para uma vistoria no veículo. Entrou no mesmo, fez algumas perguntas para o chofer. Determinou que este o colocasse em funcionamento. Mandou que acelerasse. Desceu, deu algumas voltas em torno do mesmo. Por fim, aprovou a iniciativa. Porém, antes de meu avô fechar o negócio. Ela resolveu fazer uma última pergunta: - Chofer esse carro tem buzina? O mesmo respondeu que sim. Ela disse: Buzina que eu quero ouvir. O motorista respondeu que a buzina estava com defeito. Ela explodiu, dizendo: - Não compra não Polino, esse carro não serve, ta com defeito, não tá buzinando.
“MATRIARCA AUTORITÁRIA”
Como disse, minha avó tinha uma personalidade muito forte. Era meio mandona. Isso levou meu avô a passar grande parte de seus dias viajando. Só depois de mais idoso é que passou a permanecer em casa. Por este motivo, entre outros, minha avó costumava recriminá-lo por quase tudo. Quando queria conversar com alguém na cozinha, dizia: -“Sai da cozinha Polino, na cozinha não é lugar de homem. Quando ele assentava na cadeira, ela dizia: - Levanta Polino, ce ta sujando a cadeira. Ele partia para assentar nos degraus da porta e ela continuava com as recriminações: - Levanta da escada Polino, na escada não é lugar de sentar e ce ta atrapalhando os outros passar. O certo é que ela sempre arranjava um motivo para recriminá-lo. Até me lembro de um comentário, entre as pessoas mais antigas, nos anos de 1950, em que após uma seção de recriminações, ela teria resmungado, para alguém: -”Esse velho quando era novo, que eu precisava dele, vivia no mundo, agora que ta esse canguiço, não sai de dentro de casa.
ANTENOR BARBOSA.
Eu tenho uma vaga lembrança de meu tio Antenor Barbosa. Não o conheci bem, talvez por que ele vivia meio escondido. A lembrança mais nítida que tenho do mesmo, é que quando eu tinha uns 7 a 8 anos de idade, algumas vezes eu o vi correr em perseguição a membros da raça negra, que passava frente à sua casa, chamando-os de crioulos e chicoteando-os. Não sei se era por abuso ou brincadeira. De mau gosto, é claro.
Lembro, também, que as filhas de Neném Miranda não gostavam do mesmo. Inclusive reclamavam que ele costumava sentar no degrau da escada para conversar com o Neném Miranda e de vez em quando virava o rosto para dentro da casa e cuspia no chão da sala.
Eu não sabia o motivo dele viver fugido, até um dia – muitos anos depois - em que ouvi uma das filhas da dona Cota comentar que o mesmo vivia escondido por ter assassinado seu pai, Manoel Antônio da Silva, no final da década de 30. Que na ocasião ele estava acompanhado por um bando de jagunços. O crime ocorreu em praça pública, em baixo da figueira. Que os jagunços atiravam em seu pai como se estivessem atirando em um Judas.
Contam que na ocasião da fuga, ele foi para o Norte de Minas à pé, indo se esconder em uma das Fazendas do Paulino Leandro, denominada “Fazenda do Rapa”, localizada no Município de Galiléia, hoje Baixio.
Há quem diga que o crime aconteceu por que o Manoel Antônio da Silva era desconhecido na região, e, que sofria algum tipo de anomalia mental e tinha a mania de ameaçar as pessoas levando a mão à cintura, causando a impressão que ia sacar algum tipo de arma. Costumava, também, dizer que estava a serviço de políticos influentes de outras regiões. Isso amedrontou algumas pessoas que acompanhavam Antenor Barbosa, levando-os a assassina-lo.
NÃO SABE SE É FERREIRO
Falando em Antenor Barbosa, contam que na ocasião em que ele vivia foragido em decorrência do fato acima, morou algum tempo na casa do Geraldo Vieira, no Baixio. E volta e meia ele ia para uma tenda e ficava puxando o fole para o ferreiro. Em um sábado de aleluia confeccionaram um Judas e dentre os pasquins (também conhecido como pisquim) que foram colocados no bolso do mesmo, havia um com os seguintes dizeres:
O senhor Antenor Barbosa.
Já foi chefe e fazendeiro.
Hoje, está puxando o fole.
E não sabe se é ferreiro.
TROPEIRO INTELIGENTE
O Januário Velho foi um dos tropeiros mais antigo de Tabajara. Sempre que retornava de uma viagem, com a tropa, ao passar pelas Fazendas, parava próximo às árvores frutíferas principalmente as bananeiras e gritava para o dono da Fazenda, - Ô Patrão, eu posso levar umas frutas pros meus filhos? E ele próprio respondia mudando a voz, como se fosse o dono das bananas - “Pode sim seu Januário, leva o quanto quiser”. Ele aproveitava e enchia os balaios.
TROPEIROS MAZOQUISTAS
Até final dos anos 40, ainda havia muitos tropeiros em Veadinho. Dentre eles o Euclides Pinto, Chico Camilo, Ninico Chaves e João Cunha. Esses quando se encontravam, pelas estradas ou mesmo nos botecos, tinham a mania de tomar suas pingas e dar tiros entre as pernas um do outro e também, trocar pancadas e chibatadas. Costumava, também, xingar uns aos outros, como: o Chico Camilo era Macaco sem vergonha, o Euclides Pinto era Burro Ruão, o Ninico Chaves era Porco Castrado e o João Cunha era Sem Braço. Claro que tudo não passava de brincadeira.
JAGUNÇO IMPERTINENTE.
No final da década de 20, havia em Veadinho (Tabajara), um jagunço da família dos Grongas, por nome Zé Rodriguinho - a serviço de Cesalpino Tavares -. Depois de prestar alguns serviços ao patrão, começou a sentir-se importante e desagradar ao mesmo. Inclusive, de vez em quando tomava suas pingas e saia dando tiros em via pública e gritando alto e em bom tom -“Eu não tenho chefe”-. Cesalpino, incomodado com as atitudes de Zé Rodriguimho, queixou-se ao amigo Joaquim Cândido. Dias depois, o próprio Joaquim Cândido telefonou para Rodriguinho e após fazer-lhe uma seção de elogios, convocou-o para prestar-lhe um grande serviço, que só ele tinha competência para tal. O inocente partiu para Imbé. No dia seguinte seu corpo foi encontrado próximo a São Domingos das Dores, todo crivado de balas, dentro de um saco - daqueles usados na época para transportar café em coco - amarrado pela boca.
GARIMPEIRO DESINTELIGENTE?
Contam as pessoas mais antigas que no início da década de 30 Olimpio Serra descobriu uma lavra de pedras preciosas em sua fazenda, situada no alto do Córrego da Conceição – hoje de propriedade do Juquinha Placides - e começou a comercia-las. Um dos moradores da região, por nome Gabriel de Aquino, juntou uma turma de jagunços, munidos de pás, picaretas e enxadão e partiram para aquela fazenda, para também garimparem. Quando Olimpio ficou sabendo que iriam invadir sua propriedade. Imediatamente cavou alguns buracos acima do local da mina, cobrindo-a totalmente, apagando qualquer vestígio que pudesse identificar sua localização. Quando a jagunçada, comandada por Gabriel, chegou no local, partiram para as escavações, depois de cavarem em diversos locais diferentes e nada encontrarem desistiram de seus intentos e foram embora. A mina nunca mais foi explorada e seu local nunca foi revelado a quem quer que seja.
DENTISTA GARIMPEIRO.
Por falar em garimpeiro, na década de 30, trabalhava em Veadinho, um dentista por nome Amado Ângelo. O qual garimpava seu próprio ouro para executar seu trabalho. Volta e meia ele ia para o Córrego do Suísso, garimpar. Só que naquele córrego nunca existiu ouro algum, na verdade, o ouro que ele usava, havia sido retirado das minas do Coité Velho e ele o mantinha escondido em algum lugar e não podia dar com a língua nos dentes, por isso, inventou que garimpava no Córrego do Suisso.
GARIMPEIRO JOÃO BIÉ.
Na década de 40, um grupo de garimpeiros, chefiado por meu tio João Bié começaram a tirar ouro, no Rio Manhuaçu, abaixo de São Tomé. Subiram garimpando em um córrego que desemboca no referido rio, localizado na fazenda hoje, de propriedade do Argentino Leal, município de Pocrane. No local havia um grande veio de ouro, os garimpeiros já estavam cavando bem próximo à sede da fazenda, ocasião em que o proprietário obrigou-os a paralisar com o garimpo, ameaçando buscar a polícia.
BACURÁU DE SORTE.
Contam que em 1930, o comerciante, fazendeiro e chefe político dos Bacuraus de Itajutiba, chamado José Carlos Pereira, estava sendo procurado por um bando de jagunços. Os quais iriam assassina-lo junto com Joaquim Cândido. Só que alguém o avisou via telefone, sobre a presença da jagunçada em Imbé e que haviam saído uns 20, à sua procura. Ele mais que depressa, fugiu rumo a Conselheiro Pena. Quando os jagunços chegaram em Itajutiba e foram avisados de sua fuga, saíram em seu encalço, alguns quilômetros abaixo, próximo a um lugarejo chamado “Bananal”, atualmente, município de Tarumirim, perguntaram a dois lavradores, à beira da estrada, se haviam visto passar por ali, um homem grandalhão, com um chapéu na cabeça, montado em uma mula amarela. Um deles respondeu: - “Passou simsinhô, é o coronel José Pereira, deve tá na Vitória”-. A jagunçada pensando que era Vitória no Espírito Santo, desistiram continuar. Na verdade os lavradores se referiram a uma viúva chamada Vitória, moradora e proprietária de uma Fazenda, cerca de 500 metros à frente, onde José Carlos Pereira se achava hospedado.
FEDENDO A BORRACHA.
Carrinho Fernandes da Rocha, - um dos “Bacuraus” de Veadinho (Tabajara), participante da chacina e dos saques em Imbé -. Orgulhosamente e com atitudes arrogantes, gostava de exibir suas indumentárias de jagunço (lenço vermelho em volta do pescoço e carabina na cabeça do arreio), bem, como, mostrar os produtos que havia saqueado em Imbé. De vez em quando, partia para os achincalhes aos seus parentes e amigos. Chamando-os de medrosos, cagões e para humilha-los, ainda, mais, pedia que saíssem de perto dele, pois, estavam cheirando a mato. Mas, isso durou pouco tempo. Assim que a polícia passou a investigar aqueles acontecimentos de Imbé, levaram Carrinho Rocha, preso para Caratinga. Quando ele retornou, foi a vez de seus parentes e amigos darem o troco, dizendo para ele que realmente tinham cheiro de mato porque andaram se escondido no mato, para não irem a Imbé, participar da chacina. Mas, pior era ele que retornou de Caratinga fedendo a borracha.
ESTRADA DOS VELHACOS.
Contam, que na década de 20, aquela rua, hoje, Teófilo Rodrigues, em Imbé, era conhecida como: “Estrada dos Velhacos”. Era por ela que passavam as pessoas que não queriam ser molestadas pelo Joaquim Cândido. Mas de nada adiantava, por que ele possuía espiões por todos os lados e quando alguém cometia a imprudência de fazer compras no comercio de seus adversários políticos, assim que ele tomava conhecimento, fazia as anotações em seus livros, depois mandava a conta e ai daquele que se negasse a pagar.
LODE E A PROFESSORA MARIQUINHA.
No início da década de 30 a professora de Tabajara chamava-se Mariquinha - esposa do Sebastião Honório -, a qual resolveu colocar Lode (irmão do Tiodomiro) de castigo, determinando que o mesmo ajoelhasse em cima de dois caroços de milho. Até aí, tudo bem, ele aceitou. Porém ela, não satisfeita, resolveu dar-lhe umas chibatadas. Lode se enfureceu, avançou sobre a mesma e deu lhe uma surra que ela chegou a urinar perna abaixo, escorrendo pelo chão.
TIODOMIRO
Conheci Teodomiro, ele era irmão do Lode. Foi uma figura burlesca e lendária, que viveu em Veadinho na década de 30 a 50. Ele era perneta, usava uma prótese de madeira, feita por ele mesmo. De vez em quando aparecia em Veadinho, entrava nas vendas e enchia a cara, dizendo: - Me dá uma cachaça, é o Tiodomiro que está pedindo. Após embriagar-se assumia uma personalidade de valentão e saia pela rua ordenando ao povo para fecharem as portas, sempre dizendo: é o Tiodomiro que está mandando.
Volta e meia, lá vem Teodomiro. Como sempre, montado em seu cavalo baio e o mesmo lengalenga: - Fecha a porta, é o Tiodomiro que está mandando, e o povo atendia.
Seu cavalo parecia reconhecer o estado de embriaguez do dono, causando a impressão que o ajudava a se manter em seu lombo, inclusive, quando chegava nos botecos determinava a seu cavalo “pede cachaça, o cavalo batia com a pata no chão”. Outras vezes ele gritava para o cavalo: Olha a polícia, o cavalo se inquietava, tentava morder as pessoas que estivessem por perto e dava coices em toda direção.
Uma vez ele tentou forçar o animal a entrar dentro de um boteco, o cavalo recusou, ele desceu do mesmo e o esfaqueou. Um absurdo!
SEGURA A POLÍTICA BRAUNA
Sebastião Antunes ou Bastião Antonio, foi também, pioneiro na ocupação da região de Tabajara, morava na cabeceira do Córrego da Conceição. Contam que ele usava um bigode que media um palmo de ponta a ponta e que possuía dois cavalos um de cor negra, por nome Braúna e outro baio por nome Veneno. Bastião Antonio era do partido Caranguejo. Quando seu partido estava no poder ele era useiro e vezeiro nas provocações, volta e meia, tomava suas pingas e saia pela rua obrigando seu cavalo a empinar e colocar as patas dianteiras nas portas de entrada dos comércios e dizia: - “Segura a política, Braúna”. Quando estava montado no veneno dizia: - “Segura a política veneno”. No final da década de 20 seu partido foi derrotado e ele calou por uns tempos. Depois da “Revolução de 1930” e conseqüentemente a tomada do poder e a morte de Joaquim Cândido, ele retornou com as provocações. Certo dia lá estava Bastião Antonio, com umas a mais na cabeça, montado em seu cavalo veneno, começou empina-lo e o mesmo de sempre: “Segura a política Veneno”. A polícia já havia sido alertada de suas provocações e naquele dia encontrava-se em Tabajara uma equipe policial comandada pelo Coronel Amaral, o qual mandou prender Bastião Antonio e em respeito aos direitos humanos - peculiares da época -, apenas, o espancam e arrancaram um lado de seu bigode. Conseqüência, Bastião Antônio raspou o resto do bigode e nunca mais quis saber de empinar nem mandar seu cavalo segurar a política. A partir dessa época recebeu o apelido de “Veneno”.
BOI MONARCA E VACA NOBREZA.
Contam que nos anos 40, no Córrego Boa Sorte havia um cidadão, filho de ex-escravo, por nome Zé Camilo, irmão do Joaquim Camilo – Joaquim Camilo era pai de Chico Camilo - , o qual possuía uma junta de bois de carro, cujos nomes eram “Monarca e Pintado”, tinha também, uma vaca por nome “Nobreza”, o mais curioso é que ele fazia questão de demonstrar sua autoridade sobre aqueles animais, e eles o obedeciam. Sempre que passava por Tabajara, fazia questão de comandar seu animais: “Monarca, Pintado”. Sua vaca então, nem se fala, era só ele gritar “Nobreza”, que onde quer que estivesse ela ajoelhava.
CONFUNDIDO COMO VALENTÃO.
Até os anos 40, ainda tinha muitos valentões, principalmente nos interiores dos Estados brasileiros. Conhecidos como: cangaceiros, Jagunços e capangas. Em Minas Gerais nos anos 1920 tínhamos: José Vicente na região de Ubá, Rio Branco e Ponte Nova: Joaquim Cândido, em Imbé; Capitão Messias Gonçalves, no Contestado; Badu, no Vale do Rio Doce entre outros.
Muitos deles ficaram na história, como pessoas respeitadas e destemidas, com suas próprias leis. Alguns eram apenas, baderneiros, outros, saiam por aí assassinando pessoas. Gostavam de mandar fechar comércio – como ocorre nos dias de hoje em que bandidos decretam as leis de silêncio, nas favelas do Rio de Janeiro – Costumava, também, obrigar os incautos a beber cachaça misturada com fumo.
Às vezes, eram contratados para assassinar posseiros, receber dívidas, obrigar rapazes fujões a se casarem etc.
Um dia no final dos anos 30, na boca da noite, apareceu em Tabajara que na época se chamava Veadinho, um cara mal-encarado, com todas as características de um pistoleiro cruel e hospedou-se na pequena pensão da dona Mariquinha do Antonio Honório. Seu cavalo foi solto no pasto do Raimundo Vieira, hoje de propriedade da Joaquina.
Naquela noite os moradores de Tabajara não dormiram direito, esperando que aquele homem mal-encarado fosse aprontar alguma coisa errada. Mas tudo transcorreu normalmente. A coisa engrossou foi quando o dia amanheceu e deram por falta de seu animal. O pseudovalentão ficou irritado, coçou a cabeça e bradou: - “Ai minha Nossa Sinhora! Si num achá u meu burrim, vai cuntecê um’a disgracera iguar qui cunteceu lá in Santa Maria do Baixii”. O povo ficou em polvorosa, saiu todo mundo procurando o animal. Alguns ficaram com tanto medo que foi para o boteco encher a cara de pinga. Apertaram os ladrões de cavalo, conhecidos, chegando mesmo a espancá-los, até encontrarem o animal. Foi um alivio geral. O desconhecido começou a preparar para partir, um dos moradores que havia tomado alguns goles a mais, encheu-se de coragem e perguntou: -“Moçu, quar qui foi mermo, a disgracera qui cunteceu nu Baixii”? O valentão de araque, calmamente respondeu: -“ É qui lá também, me robaru um burrim e eu tivi qui andá mais de doze légua à pé!”.
BOTINA APERTADA.
Nos anos 30, morava em nossa região um cidadão, conhecido como Chico Escrivão. Certo dia ele calçou as botinas trocadas e começou a reclamar que seus pés estavam doendo, que que não podia ser a botina, porque a mesma era velha e nunca havia apertado seus pés. Ildefonso olhou para seus pés e disse: - Tem que doer, você calçou as botinas trocadas.
EUTANÁSIA À MODA ANTIGA.
Até os anos 50, ainda existiam em Tabajara, pessoas que acreditavam que determinados doentes, principalmente os mais idosos, depois de permanecerem por muito tempo convalescendo, ficavam tão fracos que perdiam as forças para morrerem. Inclusive, existia pessoas que se auto intitulavam como especializadas no sentido de ajuda-los a morrer. Os quais forçavam o enfermo a beber leite humano ou uma gemada adoçada com rapadura, acreditando que aquele leite ou os ovos fortaleceria o moribundo, dando-lhe forças para morrer – Na realidade aquele leite ou gemada derramado em sua boca o sufocava, causando-lhe a morte. Caso não surtisse efeito eles fechavam a porta do quarto e ajoelhavam no abdome do enfermo. O certo é que o enfermo não tinha como escapar, ou morria sufocado pelo leite ou a gemada ou pela pressão no abdome. Quanta ignorância.
Lembro-me de um caso acontecido com o senhor João Rosa, inclusive, sua filha Percília Júlia Toledo o narrou em seu romance “Jamais Esquecerei” cuja parte do texto se segue:
“Porém, com o grito de Percília, ela saltou da cama e foi ver o que estava acontecendo. Dirigiu-se primeiro ao quarto de seu esposo. Chegando lá, viu, ao abrir a porta, seu compadre, seu próprio compadre, tentando tirar a vida que restava de “seu” João. D. Júlia, enfurecida, deu um grito.
Compadre, o que está fazendo aqui?
Nada Comadre.
Nada, mesmo? Eu conheço a sua cara. Você está aprontando algo de errado. Saia daqui logo.
Não, não estou fazendo nada demais. Estou apenas tentando livrar meu compadre desse sofrimento.”
O certo é que João Rosa reestabeleceu sua saúde e após enviuvar-se de D. Júlia, viveu por muitos anos. Inclusive, foi casado pela segunda vez com a avó da esposa do autor.
SOLDADO NÃO É MACACO.
Na ocasião em que a polícia andava dando batidas em São Tomé, visando prender o Joaquim Santana, localizaram o Oscar Ventura em baixo de uma arvore e tomaram seu revólver. O policial apontou o revolver para cima e puxou o gatilho várias vezes, o revólver mascou todas as balas, o policial então, lhe perguntou: é com isso que você queria matar um soldado, Oscar respondeu: -Soldado não é macaco para ficar em cima das árvores, atira para baixo que você vai ver. O soldado atirou para o chão, não mascou nem um tiro.
A PRIMEIRA CIRURGIA DE REDUÇÃO DE ESTÔMAGO.
Em meados da década de 50 João Estelisberto Alves (João Honório) sofria de úlcera no estômago e andou comendo miúdos de porco em excesso. O qual sofreu uma crise e mandaram chamar Sô Ló. Nesse ínterim prepararam-lhe um purgante. Porém antes dele tomar o remédio Sô Ló chegou apalpou sua barriga e sentenciou: Vocês não pode dar o purgante nem nada para ele comer ele está com o estômago estourado. Temos que leva-lo com urgência até o Dr. João, em Pocrane. Como a estrada estava sem condições para o trânsito de veículos, tiveram que levar João Honório em uma padiola e Sô Ló foi à frente montado em um animal. O transporte da padiola foi feito por Jair Ferreira, Arão e Olegário do Joaquim Bão, Juquinha e Quinca Placides entre outros.
Dr. João não tinha recursos para aquele tipo de atendimento. Porém mesmo em condições precárias, abriu a barriga de João Honório suturou seu estômago, reduzindo-o em mais de 90 por cento e sentenciou: Podem leva-lo para casa, se ele sobreviver procure um hospital com melhores condições de atendimento.
João Honório nunca procurou hospital e sobrevive até os dias atuais .
DOIS DEDOS ACIMA DA REFREGA.
Nos anos 30, o distrito de Tabajara, bem como a maioria dos municípios circunvizinhos pertenciam a Caratinga. Naqueles tempos houve uma festa na roça e na hora do pagode aconteceu uma briga, começando por tapas e pontapés. Alguém apagou o lampião. Em seguida começou um tiroteio, provocando gritarias e correrias, resultando em algumas pessoas desmaiadas. Quando ascenderam as luzes constataram que havia um morto e uma mulher baleada abaixo do abdome (baixo ventre).
No dia do julgamento dos acusados, ao ser inquirida uma das testemunhas, o Juiz perguntou se a mesma havia presenciado a briga. A mesma disse que sim. O Juiz partiu para uma segunda pergunta: - A vítima foi atingida antes ou depois da refrega? O cidadão ficou meio nervoso e disse: - Sinhô Doutor, como foi mesmo a pergunta. O Juiz irritou-se e de forma ríspida voltou a perguntar: - A mulher foi baleada antes ou depois da refrega? A testemunha olhou para um lado, para o outro, coçou o queixo e respondeu gaguejando. – Sissisinhor dooodotor, o tiitiro peeepegou fofffofoi teeetetrês deeedededos acisscima da refffrefffrega.
SARNA PURA.
A estrada de carro para Caratinga era muito ruim. Em épocas de chuva os caminhões agarravam nos atoleiros, principalmente, no terreno do Francisco Marciano (Chico Marciano). certa ocasião um caminhão agarrou no barreiro próximo à sua residência, os passageiros ficaram com fome e pediram-lhe umas espigas de milhas verdes. Ele negou com a desculpa de que o milho era sarna pura, ou seja, não estava granado. Só que quando ele se afastou comprovaram que o milho estava granado, a partir deste acontecimento, Chico Marciano passou a ser conhecido como “Sarna Pura”.
SULTÃO OU GARANHÃO?
Conheci Vitalino Guaiáz. Ele era parente da família Guaiáz, que deu origem ao Córrego dos Guaiáz, que faz divisa com o Córrego Areia Branca, no município de Ipanema-MG.
Na ocasião ele vivia com 14 mulheres. Ele possuía dois terrenos o primeiro é aquele que atualmente pertence aos herdeiros do Custódio Santos, o segundo fica no Córrego dos Pachecos e pertence atualmente ao Oscar Fernandes. Em cada um dos terrenos ele possuía uma venda, o Ariton Mauricio Vieira foi um de seus caixeiros. Contam os mais antigos que ele chegou a ter 25 esposas, todas moravam em suas terras, algumas na mesma casa. As quais eram obrigadas a comprar tudo o que necessitavam em suas vendas e não tinham crédito para comprarem fiado.
Eram elas que trabalhavam na lavoura, cuja colheita, tinha que ser comercializada com ele.
De vez em quando Vitalino vestia alguma peça nova de roupa e comentava que havia ganhado de presente, logo todas davam um jeito de também, presentear-lhe com algumas peças de roupa. Conclusão, ele ganhava roupas para o ano inteiro.
Aquelas que tinham o corpo mole no trabalho, ou manifestavam o desejo de abandona-lo, Vitalino costumava surra-las com uma espécie de chicote feito com cabo de madeira e um pedaço de arame na ponta.
Contam, também que certa ocasião, em um sábado à noite, ele aplicou uma seção de chibatadas e durante a madrugada, 10 delas fugiram. No dia seguinte ele passou o dia enchendo a cara no boteco e chorando por elas tê-lo abandonado.
PAGODE NOS GUAIÁZ.
Já que falamos de Vitalino, lembrei-me de uma história contada pelas pessoas mais antigas acontecida no inicio dos anos 30 com seus parentes do Córrego dos Guaiaz. Era uma família de cor negra cujos descendentes ainda moram na região, que fica alguns quilômetros acima de Tabajara, do outro lado do Rio Manhuaçu, município de Ipanema, cujo nome da família deu origem ao nome da região onde vivem. A família gostava de fazer festas, todos os sábados eles se reuniam e dançavam ao som de uma sanfona, até o amanhecer do dia seguinte. Os Guaiáz eram descendentes de escravos, praticavam seus ritos religiosos de origem africana - conhecido como “pemba” - proibido e muito perseguido na ocasião, inclusive a polícia já tinha conhecimento desses “pembas”. Certa dia um morador de Tabajara chamado João Rosa de Toledo, resolveu participar de uma daquelas festas, o qual era a única pessoa de cor branca na festa.
No auge da festa passou pelo local um grupo de policiais comandados pelo Tenente Amaral e prendeu todos os participantes, levando-os para Ipanema. Em Ipanema os policiais os espancaram com varas de siéba que é um tipo de vara usado para açoites. Não perdoaram nem João Rosa que era de raça branca. Era tempo de calor, o sol estava muito quente e aqueles – apenas por serem crioulos – além de serem surrados ainda foram obrigados a tocar a sanfona e dançar rua afora até molhar a roupa de suor, sob a acusação de que estavam batendo “pemba”. Quando os Guaiaz retornaram para suas casas, continuaram com a festa passaram a cantar:
Vamos dançá sirieba
Inquanto a pulicia não vêm
Quando a pulicia chegá
Dança a siéba também.
VELHO JERÔNIMO.
O Velho Jerônimo - avô da Aida Souza, proprietária da “Pensão Sousa” em Tabajara - era viciado em bicarbonato de sódio. Contam que - segundo cálculos feitos pelo Lindolfo Barbosa, proprietário do comercio onde o mesmo comprava o produto - durante toda a sua vida Jerônimo chegou a consumir mais ou menos 35, 1/2 @ do produto, ou seja: 532,5 Kg (quinhentos e trinta e dois quilos e quinhentos gramas).
PESCADOR DE GALINHAS.
No início da década de 50, dois remanescentes da “Turma do Abafa”, se mudaram para Tabajara, onde o mais velho montou uma Farmácia. Vizinho a eles morava a dona Quinota do Neném Miranda, a dona Floripe do Zé Lúcio e a dona Geraldina do Domício, as quais possuíam muitas galinhas soltas pelo quintal. Um dos netos do Lúcio Velho, de nome Gabriel era o cozinheiro dos mesmos -especialista em cozinhar galinhas-. Na ocasião eu tinha uns 09 anos de idade e achava muito estranho, o (Zico Pedra) - irmão mais novo do farmacêutico - ficar tratando daquelas galinhas e dizendo: - Nós temos que tratar bem dessas penosas, para elas ficarem bem mansinhas na hora da pesca -. Eu, não entendia nada daquilo, até o dia em que presenciei ele iscar um anzol com um caroço de milho e jogar para uma galinha. Após ela engolir aquele caroço de milho, ouvi-o dizer: - Já ta no papo-. Fiquei surpreso, e inocentemente, cheguei a pensar que era o milho que estava no papo da galinha. Mas após ele puxar a galinha e apertar seu pescoço, entendi que era a galinha que ia para papo do “Pescador”.
OIA A GALINHA QUE OCÊ ROBÔ.
Essa pesca de galinhas me fez lembrar que no inicio dos anos 50 começou a desaparecer algumas galinhas em Tabajara. A polícia acabou por encontrar as penosas com alguns dos filhos de Ariel e os prendeu. Obrigando-os a sair pela rua exibindo as galinhas penduradas no pescoço e dizendo para o povo que é a galinha que você roubou. O gatuno saiu dizendo: “Olha a galinha que ocê robô”. O policial ao ouvir aquilo deu algumas cassetetadas nas costas do mesmo e disse: “Foi você que roubou”. O incauto não entendendo saiu repetindo: “Foi ocê que robô”. O policial continuou surrando-o até o mesmo entender e sair dizendo: “Olha a galinha que eu roubei”.
GALINHA RECHEADA.
Já que estamos falando em galinha. No dia do casamento do Adão Maquinista, seu sogro Ninico Chaves fez uma grande festa. Matou capado, cabrito e umas quatro dúzias de galinhas. Quando começaram a servir o almoço, uma daquelas galinhas começou a ser passada de mão em mão, as pessoas começavam a retirar algum de seus pedaços e desistiam. Até que a colocaram em minha frente. Foi aí que descobri porque aquela penosa estava sendo rejeitada. É que a mesma havia sido frita sem ter sido aberta e limpa por dentro.
PÃO COM SARDINHA.
Na década de 50, Mário Neiva era proprietário da padaria de Tabajara. Certo dia um de seus padeiros entrou noite adentro, bebendo e tirando o gosto com sardinha. Quando chegou a hora de ir para o trabalho, estava completamente embriagado. Ao iniciar o trabalho acabou por vomitar no meio da massa de pão. No dia seguinte os consumidores elogiaram, dizendo: - “Ôba! Hoje é pão com sardinha” -. Só que o padeiro foi despedido.
TO TODO BALEADO.
Ernandes, era o filho caçula de Bastião Augusto e tinha o apelido de Tiú. No final dos anos 50, ele desentendeu-se com um dos sobrinhos de João Lopes, cujo apelido era Canelinha e deu-lhe uma surra. Só parou de bater, quando Canelinha correu. Ernandes ameaçou: da próxima vez, vou bater mais ainda. Canelinha sentindo que não tinha físico para continuar enfrentando Ernandes e com medo de continuar apanhando, pegou uma garrucha emprestada com seu primo Conrado Lopes e passou a andar com a mesma na cintura. Dias depois, Ernandes que já era um mastodonte perto de Canelinha, ainda ajuntou-se com um de seus sobrinhos por nome Divino e encurralou Canelinha debaixo da figueira. Canelinha sentindo-se acuado, não teve outra saída senão sacar a garrucha. Quando a dupla: Ernandes e Divino viram aquele trabuco na mão de Canelinha, bateram-se em retirada, porém, Canelinha apertou o dedo, efetuando dois disparos em direção aos mesmos. Ernades e Divino partiram, em desabalada carreira, até chegar na casa de Divino, aonde, Ernandes, chegou primeiro. Seus familiares – irmã Margarida e mãe Leonídia - haviam ouvido os tiros e vendo o chegar correndo daquele jeito, Margarida o perguntou: - “O quê que foi Tiú?”. Ele estava tão apavorado que havia defecado na roupa e começou a gaguejar: - “Fo-fo-foi o Cane-ne-la, Cane-ne-la, Ca-canela”. Seu sobrinho Divino, que nessas alturas já havia chegado e também estava apavorado, apenas, completava o final do nome que seu tio queria dizer, ou seja: Ernandes dizia: Canela, Canela e Divino completava: “Nelinha, Nelinha”.
Quando conseguiram, contar que Canelinha havia atirado nos mesmos, perguntaram lhe: E então Tiú, você está baleado? Ele então respondeu: - “Tô sentindo alguma coisa escorrendo em minhas pernas e se sangue tem cheiro de merda eu tô todo baleado”.
CAÇADA DE PACA.
Pelos idos dos anos 30, morava em Tabajara um cidadão por nome José (Zé) Monteiro (parente dos Totó). O mesmo era tio de Sebastião (Bastião) Augusto. Bastião Augusto tinha um cachorro velho, pelancudo e cheio de rugas, por nome “rusguento”.
Certa ocasião, tio e sobrinho saíram para caçar pacas na Fazenda dos Dutra, divisa com a fazenda da dona Alexandra. No momento em que o cachorro acuou a paca, Bastião Augusto gritou -“Seica a paica cumpadi, padim, tio Zé Monteiro, ela beirou o reigo das Dutra, sartô pro reigo da dona Lixanda, mais, cuidado procê num atirá no meu rusguento”-.
BASTIÃO AUGUSTO.
Conheci o Bastião Augusto, sua esposa se chamava Leonidia. Seus filhos eram a Margarida esposa de um descendente dos Lúcio conhecido por Zé Pequeno; Luzia esposa de João Pinto de Oliveira (JoãoAlbino); Izolina (Côca) esposa de Altino Lúcio; Ernandes (o mesmo da história com o Canelinha) etc.
Bastião Augusto gostava de tocar uma sanfona e cantar. Alguns de seus versos dizia mais ou menos assim:
A pedra da Lifonsina. Jacaré é bicho doido
deu dois tombos, Celebrá. Mora no fundo do rio
Ajuntei mais o irmão João Capivara não é boba
E cheguemos ela no lugar. Pra andar a revelia.
Não faz assim não morena. Não faz assim não morena.
Não faz assim não que eu choro. Não faz assim não que eu choro.
SUSTENTANDO O VÍCIO.
Nos anos de 1950, conheci Antônio Pinto. O mesmo era fumante, mas, não gostava de gastar dinheiro para alimentar seu vício. Então, entrava nas vendas e pedia para experimentar o fumo, à medida que ia picando fumo, para fazer o cigarro, puxava conversa, na maioria das vezes falando sobre as condições climáticas, e apontando em alguma direção, a fim de distrair os presentes. Com isso ele colocava fumo picado no bolso que dava para fumar por alguns dias.
AUGUSTO PINTO.
O velho Augusto Pinto, mais um Pinto que era também uma figura engraçada. Certa ocasião a molecada descobriu que todos os dias por volta das 09:00 horas da noite Augusto Pinto se dirigia para a beira do rio para fazer suas necessidades fisiológicas. Lá chegando, procedia como num ritual, baixava a calça, com cirola e tudo, se agachava, agarrado ao tronco de uma pequena arvore, já meio ressecada, virava de costas para o rio e descarregava tudo o que tinha direito. O que a molecada inventou? Deram um corte de serrote em um dos lados daquela arvore, deixando-a ainda, de pé, com apenas uma pequena parte sem terminar, de forma a não ser notada pelo Augusto Pinto. No dia seguinte, lá estava a molecada na espreita. No horário de costume, lá vem Augusto Pinto. O coração da molecada naquele momento acelerou a mais de mil. Augusto Pinto, proscedeu o mesmo ritual de sempre, ou seja: baixou suas vestimentas, agarrou-se ao tronco da arvore, quando virou-se de costas para o rio, o tronco da arvore o acompanhou e ca-ti-bum com arvore e tudo dentro do rio. E olha que a ribanceira era de uns três metros de altura. E lá foi o corre-corre da molecada para chamar alguém para retirar Augusto Pinto de dentro do rio.
JOÃO DIABO DE OLIVEIRA.
João Pinto de Oliveira (João Arbino), mais um Pinto engraçado. Certa ocasião João Albino resolveu cobrar uma conta de um determinado cidadão. Esse, além de não pagar, ainda passou a ameaça-lo. João Albino ficou tão indignado que escreveu um bilhete ao mesmo com o seguinte teor: - “Peço que você não me leve a mal. Tentei receber e você quis me pagar com briga. Eu acho que você não quer me pagar. Se eu continuar negociando com fregueses que nem você, eu tô no barro. Já que você não quer me pagar, pode ficar por esmola. Eu não sou de briga, mas tenho um irmão que briga por mim. Caso você não sabe, eu sou irmão do Euclides Pinto de Oliveira”.
De seu amigo e criado: João “Diabo” de Oliveira.
DEPOIS QUE EU APANHO É QUE EU AZANGO.
No final da década de 50, morava em Tabajara um cidadão, por nome João Vigilino, o qual, de vez em quando embriagava-se e ficava perturbando as pessoas. Certa ocasião ele tomou um porre e partiu para as perturbações. Os policiais obedecendo aos direitos humanos, peculiares da época, deram-lhe alguns corretivos. Ele não gostou e saiu rua abaixo reclamando em alta voz: “Essa gente não devia me bater, eles não me conhece, não sabem com quem esta mexendo, eles não sabem que depois que eu apanho eu azango. Eu hoje estou um homem zangado”. E assim passou o resto do dia, até dormir e sarar da bebedeira.
VIVA A LIMIA.
Uma vez chegou um circo em Veadinho. Uma das artistas do circo por nome Alemira, da cor clara e muito bonita, estava grávida e seu dia estava próximo. O Circo não arrecadou o suficiente para se manter e devido ao avançado estado de gestação da mesma, tiveram que partir deixando-a para traz. Havia em Tabajara um solteirão, da raça negra, descendente da família Lúcio, chamado Alberto Lúcio. O mesmo resolveu assumir Alemira, bancando todo o enxoval do neném, bem como as demais despesas. No dia que ela deu a luz, Sô Alberto comprou uma caixa de foguetes e pediu a seu sobrinho Valdemar para soltá-los. A cada pipocar de foguetes sô Alberto bradava em alta voz “viva a Limia”, e assim continuou com seus apupos. O Valdemar, inocente da situação, foi logo perguntando. – O que é isso tio Alberto-. Sô Alberto respondeu: – Cê ta bobo ainda, cê ta bobo ainda-. Coitado, antes de terminar o resguardo da Alemira, seu marido retornou e a levou embora e Sô Alberto ficou na saudade.
INRIBA DE DOIS AICOS.
006 Zé Benedito – Este também, é descendente dos Lucio. A primeira bicicleta que chegou em Tabajara, foi levada por Zé Tenente no final dos anos 40. Quando o Zé Benedito viu Zé Tenente pedalando aquela parafernália, saiu correndo rua abaixo, ao chegar em casa, ainda cansado foi logo dizendo à sua mãe: - Corre Mãe Bastiana, vem vê. Lá envém um homem amontado inriba de dois aicos, e ele envém que envém.
TÔTA.
O Tôta era uma figura burlesca que vivia em Veadinho, sua esposa era conhecida como Sa Ursa. Ele nunca foi de trabalhar. Gostava mesmo era de tomar suas pingas e tocar sua sanfona de oito baixos. Tôta não era nada respeitador. Tanto é que chegou a cumprir pena de 10 anos nas cadeia de Neves, por ter desonrado a própria filha conhecida como Favinha.
Contam os mais antigos que certa ocasião, acredito que no final dos anos 40, tarde da noite, Tôta tocava sua sanfona, sentado em um banco improvisado em baixo de uma janela de um quarto, destinada aos hóspedes, na casa do Lindolfo Barbosa. Na ocasião o hóspede era um viajante, daqueles muito sistemáticos, que não gostava de barulho. Então o viajante abriu a janela, conversou com Tôta e até elogiou seus dotes artísticos, em seguida ofereceu-lhe cinco mil réis pela sanfona, o Tôta prontamente aceitou, já que a havia comprado por três. Tempos depois, aquele viajante retornou à Tabajara e estava a dormir no mesmo quarto. Alguns brincalhões incentivaram Tôta, dizendo que aquele cidadão que lhe comprara a sanfona, estava de volta e queria ouvi-lo novamente. Lá foi o Tôta para o mesmo local e outra sanfona, quando começou a tocar, aquele cidadão abriu a janela e foi dizendo: “Você de novo? Pegou um pinico cheio de xixi e merda e derramou sobre sua cabeça.
MAIS UMA DO TÔTA.
Apesar de ser o sanfoneiro e animador dos pagodes. As mulheres o rejeitavam para dançar. Mulher nenhuma aceitava dançar com o mesmo. Sempre que faziam bailes, lá estava o Tôta, implorando com as mulheres para dançar e sendo recusado. Havia uma mulata, da família Lúcio, muito bonita, de uns 30 anos, por nome Raimunda Malaquia, que havia ficado cega já depois de moça feita. A qual só dançava com as autoridades: chefes políticos, fazendeiros e comerciantes. Tôta então aproximava-se da mesma e balbuciava em seus ouvidos: - “Vem dançar comigo, é o Ede Brum. Na rodada seguinte ele dizia: – “Agora é o Sr. Antonio Tôrres” E assim usando os nomes do Brantes,. Lindolfo Barbosa, Ailton e outros ele dançava até o raiar do dia. Enquanto dançava, as pessoas passavam por perto e gritavam: “Lava a égua Ede Brum, outras vezes era: “Lava a égua Antonio Tores, Lindolfo Barbosa, Ailton e assim por diante.
TURMA DO JOÃO SOARES X FILHOS DO TÔTA
Por falar no Tôta. Dos anos 40, até inicio dos anos 50, os filho do Tôta por nome Totinha, Aperiano e Virgílio, viviam aprontando coisa erradas. Eles eram atrevidos, arrogantes e debochados e gostavam de aprontar badernas. Volta e meia, lá estavam os filhos do Tôta enchendo a cara de cachaça e praticando badernas. Isto aconteceu por um longo tempo, até o dia em que - no auge de uma baderna - surgiu um grupo de super-heróis, justiceiros, intitulados: “Turma do João Soares” - composta pelos filhos do Mário Neiva de nomes Bim, Lito e Gerson entre outros e resolveram colocar um ponto final naquilo. Buscaram os arrochos – feitos de pau roxinho - da tropa do Augusto Pinto e deram tantas pauladas nos filhos do Tota que eles nunca mais aprontaram.
“TURMA DOS PLACIDES”.
Por falar em “Super Heróis”. Na década de 40 havia em Veadinho um cidadão baixinho e feio, chamado Vital Pinto - filho do Augusto Pinto -. Vital era um dos remanescentes de uma gangue de bagunceiros, que se diziam “Super Heróis”, intitulada: “Turma do Abafa”, acredito que Vital era o único que ainda continuava em atividades. Era useiro e vezeiro na prática de badernas, principalmente no sentido de acabar com os pagodes da região. Era só fazer um pagode (baile) que lá estava Vital, tomando suas pingas, dando tiros e colocando o povo para correr. Certa feita, já na década de 50, a família Placides resolveu fazer um destes pagodes e lá foi o Vital. Inclusive dias atrás Vital havia acabado com um destes pagodes em Santa Constância, município de Ipanema, dando um tiro em direção aos pés de uma moça que o recusou para dançar.
Os filhos do Zé Placides conheciam a fama de Vital, chamaram no de lado e o aconselharam que se comportasse direito e não tentasse fazer badernas. Vital prometeu comportar-se e continuou enchendo a cara. De vez em quando ele saia em direção ao matagal, onde sua cachaça estava escondida, inclusive alguém foi até o local, derramou um pouco da pinga e fez xixi no restante, mesmo assim Vital continuou a beber. Os Placides ficaram na espreita. Depois de encher a cara, Vital resolveu chamar uma das filhas de Mario Neiva por nome Cecília (Cilinha), para dançar e a mesma recusou. Vital então resolveu sacar sua arma (garrucha 32). Alguém apagou o lampião e entrou em cena os famosos “Super Heróis, Justiceiros”, intitulados: “Turma dos Placides” auxiliados pela “Turma do João Soares” (filhos de Mario Neiva) e o jogaram escada abaixo, em seguida amarraram-no em um tronco e o surraram até ele fazer xixi nas calças. Depois deste dia Vital nunca mais tentou acabar com outros pagodes.
TURMA DOS BIÉ, COM OS MEIO TIJOLOS.
Por falar em “super heróis, justiceiros”. São Tomé também tinha a os seus. Sempre que aparecia alguém aprontando, empinando cavalos, bancando o valentão e desafiando as pessoas durante o dia. Se o mesmo cometesse a imprudência de permanecer na rua até o anoitecer, a “Turma dos Bié” entrava em cena, com os meio tijolos. O incauto tomava tanta tijolada que ficava mole no chão. Os meios tijolos caiam como uma espécie de chuva e ninguém sabia de onde vinham. Inclusive, teve um sub delegado por nome Zé Simão, que andou importunando alguns jovens pela rua e ao anoitecer foi atacado pelos não sei se “Super Heróis.
CHAVEIRO DEDO DURO.
Na década de 50 meu pai bancava um jogo de Víspora (jogo parecido com o Bingo). Osvaldo Maduro volta e meia, fazia parte da jogatina, porém, seu pai não gostava. De vez em quando Didico Maduro ia até o local tentando surpreendê-lo, porém, nunca conseguia porque, sempre que Didico se aproximava, era traído pelo tilintar muito alto produzido por um molhe de chaves que carregava presas à cintura em um chaveiro.
CUSTÓDIO JULIO.
O Custódio Júlio tinha o apelido de Custódio Pelanca e Custódio Mentira, só que ele virava bicho, ou seja brigava quando alguém lhe chamava desses nomes. O apelido de Pelanca, acredito que por causa do rosto enrugado e pelancudo, mas eu não sabia o motivo do outro apelido, até o dia em que presenciei ele relatando que em suas terras havia um pé de jequitibá de uns 30 metros de altura e que por cima da copa do mesmo começou a surgir alguns pendões de cana, resolveu ir até o local e deparou com uma touceira de cana em baixo da arvore em que a maioria mediam mais de 15 metros de altura. Assim que ele partiu, foi uma gargalhada geral.
Depois desta, não sei porque ele achava ruim ser taxado de Custódio Mentira.
LERDEZA TEM LIMITES.
O José Carlos Pacheco era entregador de leite. Ele possuía um cavalo baio, muito bom de cela e marchador. Um dia foi entregar leite e o amarrou ao lado de uma égua de propriedade do Levino Chiquinha - mãe da égua pomba do Mulambo - da mesma cor de seu cavalo, a qual era muito ruim de cela e trotona. José Carlos, depois de tomar alguns goles, por engano acabou montando na égua e começou a reclamar pela rua: “Esse cavalo nunca trotou, agora, além de estar trotando, eu não consigo faze-lo mudar o passo. Então alguém lhe disse: - Tem razão de trotar, você está montado é na égua do Levino Chiquinha.
JOÃO BANANA.
No inicio dos anos 50, ocasião em que o José de Oliveira Reis (Zé Tenente) mudou-se para Tabajara, trouxe um cidadão muito engraçado, - aparentemente portador de autismo - . Seu nome era João Moreira, mais conhecido como João Banana. O qual ficava perambulando pela região (Tabajara x São Tomé). O certo é que ele nunca teve residência fixa. Ele gostava de ficar fazendo um movimento de inclinar o corpo para frente e para traz, depois disparava uma longa gargalhada, que chegava a durar uns 3 minutos, e saia correndo e soltando peidos. De vez em quando lá estava o João Banana, balançando para frente e para traz, ia acelerando e rindo, até sair correndo, com aquele seu jeito estranho, dando pulos, balançando as mãos e peidando. Quando alguém lhe perguntava o que era aquilo, ele respondia que estava manerando o gango. Tinha até uma musiquinha que ele costumava cantar, mais ou menos assim: “Manera o gango que eu te dou cinco mil réis, manerou bem manerado dou mais cinco intero dez”. Quando alguém o chamava de bobo. Ele respondia: - Eu não sou bobo, eu faço de bobo é para viver.
Assim era o João Moreira. Aquilo para a criançada era uma farra. Que saudade do João Moreira. Ele terminou seus dias em São Tomé.
JOÃO BANANA 2.
João Banana não gostava de tomar banho, quando alguém comentava que ele estava mal cheiroso, com odor de Jaracataca. Ele respondia. – “Jaraca te ataca” e como de costume, dava uma longa risada. Quando seu mau cheiro atingia um nível mais alto, a rapaziada - durante a noite - o levava para a cachoeira, retirava suas vestes e as jogava fora. Empurravam João Moreira para dentro da água e davam-lhe uma barra de sabão do reino e sentenciavam: - Só vai sair da água depois que o sabão acabar. Claro que tudo aquilo, não passava de uma brincadeira, onde eles riam muito. Após o banho, João Moreira tinha calçado e roupa limpinha para vestir.
JOÃO BANANA 3.
Já que estamos falando do João Banana. Ele ganhou esse apelido por que era meio pancado da idéia. Ele conversava muito. Às vezes sozinho. Muitas de suas conversas eram sem nexo, mas alguns de seus assuntos apresentavam sabedoria. Ele gostava de fazer perguntas. Dentre as inúmeras perguntas que fazia allgumas ficaram gravadas em minha memória. Como esta por ex: Um cidadão dava dinheiro as pessoas, de acordo com a coincidência entre o horário e a idade das mesmas, como:
-Duas crianças, chegaram até ele e pediram dinheiro, ele perguntou pela idade de cada uma, olhou para o relógio, retirou 15 cruzeiros do bolso, deu 8 para uma e 7 para a outra. Qual a idade das crianças e quantas horas eram? Em seguida ele mesmo dava a resposta, que uma das crianças tinha 7 anos e a outra tinha 8 e o horário era 15 para as 02. Ele terminava de responder e caia na gargalhada.
E a segunda era a do criminoso:
-Um criminoso foi condenado à prisão perpétua. Em um dia de visitas na cadeia onde ele cumpria sua sentença, houve uma rebelião. Um dos visitantes era a filha de uma pessoa muito influente. O criminoso conseguiu livrá-la de ser assassinada ou mesmo violentada pelos presos. O pai da moça ficou muito agradecido e intercedeu por ele junto às autoridades, conseguindo o perdão da metade da pena.
Como foi que o Carcereiro fez para que ele cumprisse a metade da pena já que ele havia sido condenado à prisão perpétua e ninguém sabia o dia que ele iria morrer?
Resposta: O Carcereiro passou a mantê-lo um dia em liberdade e outro na prisão, até o fim de sua vida.
MARIA CARRA.
Desde as décadas de 40 e 50 que se tornou costume em nossa região chamar as pessoas, quando soltam seus arrotos, de Maria Carra. É que naquelas décadas morava em Tabajara, no Córrego São Luiz, um cidadão chamado José Carro, cuja esposa era a dona Maria Carra, a qual sofria de algum tipo de anomalia, que a impedia de segurar os arrotos. Constantemente, onde quer que estivesse, ela soltava arrotos muito altos. Daí passaram aos poucos apelidar quem solta seus arrotos em local inadequado de Maria Carra, até tornar-se costume.
JOSÉ LUCIANO EMBRABECEU
Em l963, eu e o Zé Luciano, estávamos em Tabajara a passeio. Fomos convidados pelo Orestes Tiririca para comer cabrito assado. Naquele come cabrito e bebe cachaça - bebendo mais do que comendo - acabamos por descobrir uma cabeça de cachorro jogada no lixo. Analisando a ossada do pernil, concluímos que, o que havíamos comido não era cabrito. Lembramos, também, que o nosso anfitrião tinha a fama de ser comedor de cachorros. Até o apelidaram de “Orestes Cão”. Zé Luciano já havia tomado uma a mais e acabou “virando bicho”. Começou por recordar os bons tempos em que foi quase jagunço, de Lindolfo Barbosa, e disse: - Esse cara não sabe com quem tá mexendo, isso é uma afronta a uma pessoa de minha categoria. Ele não sabe quem fui eu -. Em seguida sacou de uma garrucha, calibre 22 e, queria matar Orestes a qualquer custo. Foi uma luta no sentido de persuadí-lo a mudar de idéia.
VAI À MERDA PAI.
No inicio da década de 50, morava em Tabajara na atual Av. Lindolfo Barbosa nº 363, um cidadão por nome João Soares Valente, o mesmo exercia a profissão de carreiro, seu filho Agostinho era o candeeiro. Certa ocasião, lá vai o João Valente carreando e Tim à frente, guiando os bois. Em dado momento gritou João Valente: - “Tim cê tá dormindo, cerca os bois, eles estão saindo da estrada, deste jeito vai cair no buraco”. O Tim não esperou o pai terminar foi logo respondendo: - “Vai à merda Pai”.
ZÉ FANCHÃO.
Zé Fanchão, era o apelido de meu compadre José Dimas Soares ou para outros, apenas, Zé Arcelino. Não sei se seu apelido era devido ao tamanho: dele, de suas pernas longas ou do fancho. Só sei que ele era meio encapetado quando adolescente. Contam que pelos idos anos de 1954 a 57 - não sei situar exatamente - quando ele tinha uns 14 a 16 anos de idade, ele adentrou debaixo do assoalho de uma casa, no sentido de ouvir o que Alípio Teixeira conversava com uma moçoila - daquelas que dava igual galinha - e ouviu quando marcaram o horário para ela deixar a janela destramelada. Zé Fanchão, esperto que era, combinou com outro colega e na hora marcada, pontualmente, lá vem o Alípio, um deles subiu sobre o ombro do outro e cobriu com um lençol branco, permanecendo ao lado da casa na parte escura. O Alípio quando viu aquilo, retornou correndo apavorado para traz. Zé Fanchão e o outro amigo pularam a janela. A moçoila, a princípio assumiu uma pose de puritana, dizendo: - Eu não sou disso. Mas, depois que eles contaram a história da assombração e que Alípio havia corrido, ela acabou por ceder e até instruí-los no assunto. Eles fizeram a festa. No dia seguinte, só se ouvia falar, era na assombração, com mais de três metros de altura, vista pelo Alípio.
A ÉGUA POMBA DO MULAMBO.
Nas décadas de 70/80, o Levino Chiquinha possuía uma égua baia, a qual havia criado uma poldra, cujo nome não consegui ficar sabendo. Devido a sua cor pomba e a perereca esbranquiçada, antes, mesmo, de ser desmamada a molecada vivia a visitá-la. Ela vivia aí pelas redondezas, às vezes nos brejos dos fundos dos quintais, no campo de futebol etc. Quando ela foi desmamada, a procura aumentou tanto, que seu proprietário ficou envergonhado, e acabou vendendo-a para o Zequinha Luciano, também conhecido como “Mulambo”.
Depois da transação, ela passou a ser conhecida como “A Pomba do Mulambo”. Ela continuou solta por aí, às vezes o Mulambo a levava para a Fazenda. Mesmo assim, tinha moleque – tão atrevido - que saia da rua e ia procurá-la na Fazenda. Seus ex-amantes, estão por aí, já casados, alguns se mudaram para outras regiões, mas, a maioria mora em Tabajara. Não sei se terão coragem de assumir o namoro.
FUGIU COM A MULA.
Em 1956 conheci um rapaz por nome Paulão da Ana. Eu trabalhava como caixeiro para o Didico Maduro, onde volta e meia Paulão aparecia. Ele gostava de tomar sorvete e chegava a chupar cinco a seis picolés.
Paulão da Ana morava próximo a Cidade de Ipanema e tinha uma noiva em Santa Constância. Naqueles tempos não era como hoje em que mal se começa o namoro e a moça já começa a dar para o namorado. A maioria da rapaziada se serviam era das éguas, mulas, porcas, cabritas, galinhas etc. Certo dia, Paulão combinou de passar pela casa da namorada a fim de virem juntos para uma festa em Tabajara e já que estava de casamento marcado, a moça havia prometido dar para ele durante o trajeto. Só que quando chegou na casa da noiva os familiares da mesma resolveram acompanha-los e alguns membros da família ainda iriam tomar banho. Paulão, ficou decepcionado por terem cortado “seu barato” e argumentou: - “Já que vocês também vão, eu vou indo na frente. Montou em sua mula e partiu. Neste ínterim, os familiares da noiva resolveram deixar para tomar banho na casa de parentes em Tabajara e apertaram o passo no sentido de alcançar Paulão. Cerca de uns três quilômetros à frente, em uma baixada, na beira de um córrego, Paulão parou para se masturbar, porém olhando para a mula, desistiu da masturbação e resolveu encarar a perereca da mesma. Encostou-a em um barranco e “pau na mula”. Quanto estava atingindo os finalmente, ouviu um barulho de pessoas se aproximando, ao olhar para traz, deparou com sua noiva e demais membros da família, alguns com as mãos tampando o rosto. Paulão montou na mula e saiu em disparada. Indo direto para Divino das Laranjeiras no Norte de Minas. Alguns anos depois já no início da década de 60, eu o encontrei em Brasília, ocasião em que confirmou essa história.
TOTÕE MANOEL.
Totõe Manoel adora recordar suas histórias. Dentre elas, gosta de repetir que quando era jovem, tomou a namorada de um outro elemento, o qual não gostou e veio tirar satisfações. Partindo para acusações, ameaças e trocas de pancadas, ocasião em que seu desafeto, ao sentir-se em desvantagem, sacou de uma garrucha calibre 320 e atirou em Totõe, porém, ele aparou as balas com as mãos.
Segundo ele, já conhecia aquela garrucha. Os projeteis saíram sem força, porque a mesma era muito antiga e de má qualidade e as molas estavam fracas.
LADRÃO DE CALCINHAS.
Certa ocasião desapareceu algumas peças de roupas, íntimas, no varal da esposa de Antonio dos Reis Filho. Ela comentou com sua vizinha que já era a segunda vez que aquilo acontecia e que a única pessoa que havia passado pelo local era Tinim do Justino. Sua vizinha então lhe disse que havia visto ele apanhando roupas no varal, mas pensou que era a seu pedido. A esposa de Antonio dos Reis abordou Tinim, esse negou o furto, ainda começou a ameaça-la. Seu marido entrou em luta corporal com Tinim e ela deu uma pancada na cabeça do mesmo, indo o caso parar na delegacia em Tabajara. A polícia interrogou Tinim, que continuou negando. Então a esposa de Antonio dos Reis disse que ele havia furtado apenas roupas íntimas (calcinhas) e que Tinim tinha a fama de usar calcinhas em vez de cuecas. Os policiais o obrigaram a despir-se e constataram que ele vestia no mínimo umas 8 (oito) calcinhas.
PODERES PARA-ANORMAIS.
Certa ocasião Tinim chegou na casa de Totõe Manoel e ofereceu-se para curar sua filha Maria da Consolação que sofria de depressão ou não sei se algum tipo de desvio mental. Tinim então sentenciou que ia benzê-la e não podia ficar ninguém por perto. Para medida de segurança entrou para o quarto onde a enferma se encontrava e trancou a porta. Alguns minutos depois ela começou a gritar. Totõe e os filhos determinaram que Tinim destrancasse a porta, ele disse que ia atrapalhar a cura. Arrombaram a porta e depararam com Tinim semi-nu tentando arrancar as vestes da enferma. Em seguida deram-lhe uma surra e o colocaram para correr, mesmo assim ele continuou dizendo que suas atitudes faziam parte da cura.
JOAQUIM CARDOSO.
Joaquim Cardoso era coveiro, certa ocasião ele foi cavar, no local de uma sepultura, e para sua surpresa, o corpo que ali fora enterrado anteriormente, estava intacto, sem aparência de deterioração. Ele cobriu de novo a sepultura e correu para sua casa onde disse para a família que achava que era uma santa. Quando comentou o assunto pela rua, determinaram ao mesmo para se calar, construíram uma catacumba no local e nunca mais tocaram naquela sepultura, nem no assunto.
BEBUM DESDE MENINO.
Meu primo Joaquim Correia, esse mesmo que morava na Areia Branca, município de Ipanema e que atualmente mora em Tabajara e deve ter uns 70 anos de idade. Joaquim passou do início de sua adolescência até o inicio da 3ª idade embriagando-se.
Enquanto a política estava com o PSD, tudo bem, mas quando passava para o outro lado a polícia o perseguia e de vez em quando o espancava. Certa ocasião estava destacado em Tabajara, um cabo PM por nome Manoel Bento, também conhecido como Manoel Cueca. Este não espancava Joaquim, apenas o mandava embora quando se embriagava. Caso Joaquim o desobedecesse este o levava preso para a sapucaia (uma espécie de cubículo - cadeia local-). Certo dia Joaquim bebeu uns goles a mais e aproximou-se do policial “Cueca” e começou a falar-lhe: - Sô Cabo, hoje cê não me prende. Depois de repetir várias vezes a mesma frase o policial começou a pensar que era uma afronta e perguntou-lhe, com atitude ameaçadora. – Não prendo porquê? Joaquim então respondeu: - Porquê se ocê me mandar embora eu vou.
MULA SEM CABEÇA.
Em l956, Tabajara não possuía iluminação pública e parte do povo de vivia em polvorosa, com a visita da “Mula sem cabeça”. Era um comentário geral. Grande parte das pessoas contando que ouviram o barulho da mula sem cabeça descer correndo rua abaixo durante a noite e a cachorrada latindo em seu redor. Alguns chegavam, mesmo, a afirmar tê-la visto pelas frestas das janelas ou das portas e que a mesma soltava faíscas de fogo pelas patas e pescoço. Este lengalenga durou mais ou menos uns seis meses, até que um belo dia o Valdemar Lúcio, quando retornava para a sua casa, tarde da noite ouviu o barulho da “mardita”, não teve outra saída senão se esconder em um beco, permanecendo de costas para a Rua. Quando a “dita cuja” aproximou-se, sentiu seu cheiro e foi direto em sua direção, ele sentiu tanto medo que chegou a mijar perna abaixo, e para a sua surpresa, aquela marvada começou a lambê-lo, foi aí que ele descobriu que a “tal” não era nada mais, nada menos que um cachorro, por nome “Nero”, de propriedade de seu patrão João Honório. Aí ele lembrou que aquele cão era mantido preso durante o dia, em uma corrente de 2 metros de comprimento e que volta e meia era ele que o alimentava e costumava soltá-lo, na parte da tarde, ocasião em que ele saia rua acima sem que ninguém atentasse para o barulho da corrente. Só sendo notado e confundido com a mula sem cabeça, quando de seu retorno, durante o silêncio da noite, com aquele grande barulho da corrente presa em seu pescoço e os demais cachorros latindo. E assim foi desvendado o mistério da “Mula sem Cabeça”.
NECA E SUAS ESTÓRIAS.
Cerca de uns 25 anos atrás, ao fazer uma visita a um enfermo por nome João Lopes, fiquei conhecendo o Néca. Naquele dia, Neca começou contando suas histórias dos bons tempos em que jogava futebol. Que quando jovem, jogou com o Zé Vieira, Ailton Barbosa, Andérson, Colipe, Toe Vieira, Valdemar Lúcio e outros. Engraçado é que ele não aparece junto com eles em nenhuma das fotos daqueles tempos.
Durante o tempo que permaneci na cabeceira de João Lopes, Neca, falou e riu, o tempo todo. Dentre as histórias que ele contou naquele dia, teve algumas que nunca esqueci, como:
... cobrar tiro de meta e sair correndo até a grande área do time adversário, matar a bola no peito e fazer o gol de bicicleta.
... chutar a bola do meio do campo e se o goleiro se atrevesse a agarra-la, de nada adiantaria porque ele acabava sendo jogado para dentro do gol com a bola e às vezes até desmaiava.
...seu chute era tão violento que a bola encompridava tomando a aparência de uma bexiga de salame.
... certa ocasião cobrou um pênalti e a bola quebrou o braço do goleiro, arrebentou a rede e desapareceu, nunca mais a encontraram.
... quando sentia vontade de fumar durante o jogo, chutava a bola para cima, corria para fora do campo, acendia o cigarro, dava algumas baforadas e retornava a tempo de dominá-la e continuar a jogada.
... cobrava escanteio e conseguia chegar primeiro que a bola e cabeceá-la para o gol, isso quando não resolvia mata-la no peito e fazer o gol de bicicleta.
... gostava também, de fazer gol de tabela, chutando a bola para bater no adversário e entrar para o gol etc.
Acredita-se, que seu treinador, de futebol, tenha sido Argenário Pereira, que mudou-se de Tabajara, nos anos 50. O qual gostava de contar peripécias que fazia com a bola. Tal e qual as de Neca.
CAÇADA DE JACÚ.
Depois de tentar nos enfiar goela abaixo, todas aquelas jogadas espetaculares, Neca resolveu contar a história de uma caçada de jacu em que participaram: ele, Totõe Manoel, Zé Cabeludo e Arlindo Inácio. Por sorte, eu havia gravado um recado do Conrado para seu pai e estava com o gravador nas mãos. Optei por dar o recado verbal e acionei o gravador para gravar a história do Neca. A qual foi contada mais ou menos da seguinte forma:
- Nós saímos 04:00 horas da manhã, para caçar Jacu em uma fazenda, no Rio Preto. Chegamos lá, 04:00 (quatro) da tarde. Sem almoço e sem café da manhã. O Vaqueiro tava tirando leite de uma das vacas e justificou que havia esquecido de tirar o leite da mesma de manhã. Ele já havia enchido um latão de 20 litros, o segundo latão estava pelo meio, a vaca caiu para o lado, o vaqueiro falou: -Aí, ta vendo. O que é a pressa. Tirei leite só de um lado, a vaca desequilibrou e caiu.
Ajudamos ele a levantar a vaca, ele terminou de tirar o leite - 04 latões de 15 litros cada. Falamos pra ele que tava sem almoço. Ele levou nós para a casa e mandou a mulher arranjar comida. Ela disse que a gordura tinha acabado, ele então, apanhou uma gamela e partiu para o quintal, em direção a um capado que estava deitado. Aí ele falou para nós: - Hoje não dá tempo, esse aqui eu vou matar amanhã cedo. Deu um talho de quatro dedos de largura no lombo do capado e retirou o toucinho para preparar a comida. O capado tava tão gordo que não sentiu nada. A mulher dele fez a comida, nós almoçamos e fomos para o mato, de repente avistamos um veado pastando debaixo de uma árvore, Arlindo Inácio apontou a bengala, eu falei: não atira não, nós viemos caçar foi jacu. Olhando para o alto avistamos um jacu posado em um dos galhos, e, acima da arvore sobrevoava um bando de marrecos. Eram 16. Eu falei: deixa pra mim que minha espingarda foi carregada com 18 caroços de chumbo. Fiz pontaria e apertei o gatilho. Acertei o jacu e os 16 marrecos. Os marrecos caíram em cima do galho da árvore e com o peso do jacu e os marrecos o galho quebrou e caiu vindo o tronco do galho cair direitinho na cabeça do veado. Eu disse: - nós não viemos caçar veado, mas, já que esse está morto vamos levar. Quando nós passamos em uma biquinha para lavar as mãos, não era água, era mel que estava escorrendo, justamente do tronco do galho que quebrou da arvore. Nesse momento nós ouvimos um zumbido no ar, eu pensei que era abelha, mas não vimos nenhuma abelha por perto. Então Zé Cabeludo disse: - se tinha 18 caroços de chumbo na espingarda, só pode ser o último caroço procurando no que acertar. - Nesse momento João Lopes – apesar de sua calma e estar acamado, não agüentou - explodiu e gritou sua mulher: - Ô Maria traz o nosso martelo “Belota”, se não encontrá, pode trazê uma marreta de dois quilos, depois ocê corre lá no Tião Totó (dono da Mercearia) e trás uns três quilos de pregos 20X30, se tiver prego galiota pode trazer meia dúzia que essa que o Neca acabou de contá é muito grande e pesada, tem que ser muito bem pregada, para não arrancá.
PEIXE-BURRO.
Depois da história da caçada de jacu, eu nunca mais aproximei de Neca sem estar com um gravador acioinado. Recentemente ele contou mais uma história e como eu estava preparado, ei-la:
- Conta Neca que tempos atrás foi pescar, chegando na beira do rio, iscou o anzol com milho verde e atirou na agua, o peixe biliscou e ele o fisgou, porém o anzol abriu e o peixe escapou, ele arranjou um anzol maior, com linha mais grossa, colocou vários caroços de milho e jogou no rio. Novamente fisgou o peixe, a linha arrebentou. Ele então foi até a venda do Tião Totó, comprou 30 metros de uma corda de náilon mais grossa, foi até o açougue do Élio e pediu um gancho de pendurar carne emprestado. Amarrou aquele gancho na corda e partiu para a beira do rio. Chegou no local por volta de 08:00 horas da noite. Iscou o gancho com uma espiga inteira de milho e o arremessou com força para um posso do outro lado. Como estava escuro ele não notou que havia caído fora da água. Quando começou a biliscar ele começou a puchar, aquilo pesou, ele continuou puchando, quando retirou da água foi que ele notou que havia fisgado era o burro de propriedade do Zé Levi, que estava pastando do outro lado do rio.
OURO, AREIA, OU ORELHUDO?
Zé Pedro, conta que um morador antigo de São Tomé, foi cavar um buraco para fincar um esteio de casa e encontrou um recipiente de barro. Continuou cavando, e ao retirar a tampa, constatou que se tratava de um grande vaso cheio de uma areia amarela. Não deu importância àquilo e o deixou jogado em uma vala, no quintal. Decorridos alguns anos, ao relatar aquele fato a outras pessoas, foi alertado que aquela areia poderia ser ouro. Só que alguém, mais esperto, já havia passado pelo local e procedido o garimpo.
QUEM PEGOU MEU PICOLÉ.
No início dos anos 50, havia em Tabajara uma moça, descendente dos Lúcio, por nome Neli. Certa ocasião ela foi à Caratinga procurar trabalho e ali hospedou-se na Pensão São Geraldo. Depois do almoço alguém lhe ofereceu um picolé, ela não conhecia aquele trem, mas, mesmo assim, aceitou. Começou a chupá-lo, estava frio, colocou-o na chapa do fogão para esquentar e foi para a sala. Momentos depois retornou a fim de continuar com o picolé só encontrando o palito. Neli aprontou o maior auê, repetindo por várias vezes: - Quem comeu meu picolé.
CACHASSA FOI FEITA É PRA HOMEM.
Conrado do João Lopes gostava de tomar suas pingas. Volta e meia ele chegava em casa mais bêbado que gambá. Seu pai com toda aquela calma o reprimia dizendo: - “Ô Conrado, você bebeu pouco meu filho, volta para o boteco e bebe até acabar com o estoque, que cachaça foi feita é para homem”.
É UM CAGO PAI.
Uma outra do Conrado. Ele e o Pai foram pescar na cachoeira. O dia não estava propício, os peixes não estavam beliscando, de repente o Conrado fisgou um cágado. Quando o João Lopes viu aquilo disse: - Puxa Conrado, é um peixe grande, parece ser um peau. Quando o Conrado retirou o peixe da água, começou a repetir: -É um cago pai, é um cago grande pai.
PROFESSORA MARIA JULIA.
Por falar em Conrado. No inicio dos anos 50, havia em Tabajara uma professora, por nome Maria Julia, filha de João Rosa(irmão da escritora Percilia Rosa de Toledo, que mora em Ceilândia DF). Um dia durante uma aula de geografia ministrada pela mesma. Ela ensinou para os alunos que a terra era redonda, suspensa no ar e que girava em torno do Sol. Depois de ouvir tudo aquilo, Conrado lhe perguntou: - Professora e se a terra parar de girar o que é que acontece? Ela então respondeu: - Meu filho nem é bom pensar nisso, se a terra parar de girar eu não sei nem onde você vai meter a cara.
QUIMQUIM DO JOÃO LOPES.
Em meados dos anos 50, Joaquim Lopes, popularmente conhecido como Quimquim do João Lopes, era uma espécie de – “capeta” - manda chuva, no meio da garotada. Volta e meia ele espancava um de seus colegas. Meu sobrinho Julio César era a sua vítima predileta, vivia apanhando. Um belo dia chegou em Tabajara um de meus sobrinhos de Alvarenga, chamado Cristiano Torres, que também não era fácil. Assim que ele ficou sabendo sobre o Quimquim, arranjou um jeito de conhecer o valentão. Quando o encontrou foi logo partindo para as provocações e deu uma surra no Quimquim que ele nunca mais quis bater no Julio César.
PREPARADO, “TIRO E QUEDA”, PARA NASCER CABELOS.
Por falar em meu sobrinho Cristiano Torres. No início dos anos 60, meu irmão Antonio Vieira o levou para o Rio de Janeiro. Onde lhe arranjou emprego em uma Lanchonete. Cristiano - muito vivo - adaptou-se bem no Rio de Janeiro. Como era moda na época ele aderiu aos cabelos longos. Volta e meia vinha passear em nossa região, exibindo, com orgulho, aquela cabeleira, caída nos ombros. Cristiano sobressaiu-se muito bem no meio daquela malandragem Carioca. Conseguiu montar seu próprio negócio, associando-se a alguns de seus irmãos, no ramo de Lanchonetes. Mas o tempo foi cruel com o mesmo. Em poucos anos, seus cabelos caíram e ele ficou calvo (careca). Cristiano não aceitava aquela situação. Certo dia, um de seus fregueses - já com umas 10 garrafas de cerveja vazias sobre a mesa - estava a encará-lo. Cristiano aproximou-se da mesa, com toda a educação - que lhe é peculiar - e em tom ameaçador, perguntou para o freguês: - Porque esta me encarando, eu não sou veado não hem! Se tiver alguma coisa a reclamar desembucha logo. Aquele cidadão, com toda calma e sotaque carioca, respondeu-lhe: - Nada dischho meu amigo, eu não exshhtou pensando mal de voschhê, estou apenas obschhervado que voschhê é gente fina, exshhtou sentindo que voschhê não goxshhta de ser careca e ischho aí tem soluhchhão, eu faschço um preparado que é tiro e queda. Eu coxshhtumo cobrar caro por eschhe tratamento, mashh como voschhê é um cara bacana, eu faxhhço pra voschhê, apenaxhhs em troca da minha dexshhpesa. Cristiano empolgou com a idéia de deixar de ser careca e acabou aceitando. O espertalhão partiu para a manipulação do preparado, pediu dois ovos, colocou os dentro do liquidificador com casca e tudo, pediu farinha de trigo, meio copo de cerveja, pimenta do reino, canela, banana, laranja, abacate, azeite de oliva, açúcar, sal, margarina etc. Colocou tudo aquilo no Liquidificador e o ligou, deixando bater até tornar-se uma mistura homogênea.
Os demais fregueses e amigos de Cristiano, ficaram embasbacados, não conseguiam acreditar que ele estava caindo naquele lero-lero. O arquimalandro levou Cristiano, ou melhor CristiAsno para o banheiro, onde passou aquela meleca em sua cabeça, cobriu com uma toalha e disse: - Tens que permanesxhher trêshhxs dias sem lavar a cabeça. Só então, Cristiano deixou de ser Cristi Asno, arrancou aquela meleca, lavou a cabeça e começou exigir que o malandrão pagasse a conta.
Nessas alturas os amigos de Cristiano entraram em cena e disseram: - Esse aí é um artista, a despesa é nossa, pode tomar mais uma companheiro que nós vamos pagar inclusive, essa meleca que você manipulou. Você está de parabéns.
-Mentira?
Se você está pensando que é mentira, é só perguntar para o próprio Cristiano, ele mora em Alvarenga. Só que ele vai teimar em dizer que foi hipnotizado.
COMEDOR DE PERERECA.
Essa aconteceu com o meu amigo Sebastião Messias da Silva, que até naquele dia, tinha o apelido de “Bastião Cachaço” (vivia comendo as porcas).
Ainda me lembro, foi no início dos anos 50, Sebastião tinha 13 anos de idade. Naquele dia estava acontecendo os preparativos para um comício que iria acontecer no dia seguinte. Havia um grande alvoroço em Tabajara. Estavam esperando a chegada do Dr. Guilhermino.
Os encarregados dos preparativos para o come-come mataram uma novilha, ocasião em que chegou o nosso personagem. Antes de começarem a tirar o couro da referida novilha, Joaquim Cardoso – um dos cozinheiros - apontou o dedo para a perereca da mesma e perguntou se ele já conhecia e se gostava daquilo. Ele respondeu que sim e que se ele deixasse ele iria come-la.
Depois que tiraram o couro da novilha, Joaquim Cardoso recortou aquela perereca e separou de um lado. No dia seguinte, no quintal da casa de Lindolfo Barbosa, enquanto cozinhavam a comida, Cardoso colocou alguns pedaços de carne na chapa para assar e de vez em quando repartia com as pessoas, só que havia um pedaço que Cardoso não deixava ninguém toca-lo. Volta e meia ele o espetava com um garfo e dizia: ainda está dura. Eu não sabia porque aquele pedaço estava demorando tanto tempo para assar. Permaneci por perto, de vez em quando sobrava um pedaço de carne para mim. Quando aquele pedaço começou a estorricar Cardoso chamou o nosso personagem e o entregou. Ele começou a morde-lo, mordia-mordia e nada, não conseguia arrancar nenhum pedaço, só conseguia engolir o caldo. Os adultos que estavam por perto começaram a cochichar uns com os outros e rir. Aquilo, era uma gargalhada geral. As pessoas passavam por perto e lhe perguntavam: Ta comendo perereca, Perereca? Quando ele deu pela maçada jogou aquela - até então eu pensava que era carne – perereca fora. Um cachorro que passava por perto a abocanhou e começou a mastigá-la. Depois de algum tempo desistiu e abandonou aquela perereca em um canto do quintal.
A partir daquele dia o nosso personagem passou a ser conhecido como Bastião Perereca.
PLANTANDO JABUTICABA.
Já que estamos falando do Perereca. Certa ocasião estávamos no quintal dos Lucio e o Sr. Alberto Lucio estava cavando um buraco. Perereca chegou perto e perguntou o que ele estava fazendo, Sr. Alberto disse: Cê num ta veno que eu to prantano jabuticaba? Perereca olhou para ele e disse: Sô Alberto, na idade que o senhor tá quando esse pé de jabuticaba começar a dar jabuticaba o senhor já morreu há muito tempo. Sr, Alberto então disse: É mesmo meu fio, mas eu já cumi muita jabuticaba que os outro prantô e que também já morreram.
RAPADURA DE AÇUCAR?
O Vadim passou alguns meses fora de Tabajara, quando retornou foi passear na roça, na casa de amigos. Depois do almoço deram-lhe rapadura como sobremesa, ele demonstrou muita admiração, chegando mesmo a fazer uma série de elogios à rapadura. No final perguntou para os amigos: - Será quantos quilos de açúcar que gasta para fazer um rapadura.
ETELVINO FERREIRA.
O que os jovens de hoje chamam de balada, nos anos 30, 40 e 50 era chamado de bailes ou pagodes. Na ocasião, durante aqueles bailes, os recados entre os rapazes e as moças era através de versos. Nos anos 50 havia em Tabajara um cidadão por nome Etelvino (Tervino) Ferreira. Ele gostava de tomar seus goles. Quando passava pela rua e alguém dissesse alguma piadinha, ele levava a mão à cinta, como se fosse sacar algum tipo arma e dizia: -ô meda, ô bosta. O certo é que todas as a camisas dele eram poídas na altura da cintura, de tanto levar a mão, como se fosse sacar arma.
Este mesmo Etelvino, nos anos 30, quando, ainda era solteiro, depois de levar o fora de uma moça, resolveu cantar-lhe um verso, mais ou menos assim:
O tempo que te amei
Foi tempo desperdiçado.
Se eu amasse uma cachorra
Era mais aproveitado.
Ela por sua vez, já que estava namorando um rapaz que possuía uma incrustação de ouro em um dente, respondeu o verso da seguinte forma:
Tenho o meu lencinho branco,
Pintadinho de amarelo.
Tenho o meu dentinho de ouro,
Não preciso de banguelo.
AILTON BARBOSA E AS SUAS.
Por falar em cantador de versos. Ailton Barbosa, em seus primeiros tempos de casado, inicio dos anos 40, ainda não tinha se dado conta daquela nova condição de vida. Naqueles dias apareceu em Veadinho uma moça vinda de Santo Antonio do Manhuaçu e durante um baile ele começou a arrastar as asas para ela. Ela sabedora que ele era casado, cantou um verso para ele:
Eu não como mais serraia
Porque serraia da leite
Amor de homem casado.
É pior que borra de azeite.
Imediatamente, Ailtom respondeu:
Já fui tocadô de burro
Já peguei muito em arrôcho
Não preciso namorá
Moça que tem o zoi torto.
ATROPELAMENTO DA DENISE.
Já que estamos falando de Ailton Barbosa. Nos anos 70, ele comprou um Jeep e resolveu aprender a dirigir. Naquele vai-e-vem, dirigindo rua abaixo, rua acima, acabou por atropelar a Denise, filha do Miguel. O que não passou de um susto para a menina. Só que o Ailton, pensando que a tivesse matado, empreendeu fuga com o jipe, acabando por cair - ou não sei se, jogar o veículo de propósito - em um buraco e ficar por ali escondido. Só sei que se ele estava no interior do Jipe, no momento em que caiu no precipício, correu um sério risco de vida. Só mais tarde algumas pessoas foram buscá-lo, em seu esconderijo. Conseqüência nuca mais quis dirigir.
BICHO PREGUIÇA.
A última do Ailton Barbosa. Certa ocasião, em Tabajara havia um ajuntamento de pessoas no meio da Rua e no centro estava um garoto segurando um Bicho Preguiça. O Cláudio Placides aproximou-se e perguntou para o garoto: - Você já ofereceu ela pro Sô Ailton? Ele ta doidinho para comer uma dessas. O garoto partiu para a casa do Ailtom, lá chegando, começou a chamar. Ailton estava almoçando, parou o almoço para atende-lo. Esse por sua vez foi logo dizendo: -Diz que o Sr, ta querendo comer uma dessas, quanto o Sr quer dar por ela. Ailton perdeu as estribeiras e explodiu, dizendo um montão de desaforos para o inocente garoto, terminando por dizer: -Eu não como essa porcaria. A minha geladeira está cheia de carne. O garoto justificou, dizendo que foi Cláudio Placides que o mandou. Ailton aumentou a fúria, incorporou o espírito de seu falecido pai Antenor Barbosa e desabafou: -Fala praquele Capeta ir à PQP e pra enfiar esse bicho no @$#@#.
TERRA BOA, GENTE BOA E ÁGUA BOA.
Naquele vaivém de pessoas para o Norte de Minas, havia um ponto de pouso, nas proximidades de um lugarejo por nome Cataca. Todos que por ali chegavam o proprietário perguntava de onde vinha e para onde iam, normalmente as pessoas respondiam que estavam a caminho do norte, ele então respondia: -“Terra boa, água boa e gente boa”. De tanto responder assim seu papagaio aprendeu a repetir suas palavras. Certa ocasião um cidadão passou por lá e ele como de costume lhe fez as perguntas costumeiras e repetiu que o norte era “Terra boa, água boa e gente boa”. Só que o cidadão não se deu bem no norte, além da doença e da fome, assassinaram dois de seus filhos. Ele, então cheio de revolta, resolveu retornar, quando chegou no ponto de pousada o proprietário não estava, então o papagaio lhe perguntou: Ô patrão de onde vem? Ele respondeu que era do norte e o papagaio repetiu -“Terra boa, água boa e gente boa”. Ele partiu em direção ao papagaio, queria mata-lo, a qualquer custo.
RICARDO NEIVA.
Contam que Ricardo Neiva foi um dos primeiros comerciantes e fazendeiros em São Tomé. Que ele mudou-se da região em decorrência de perseguição e atitudes humilhantes praticadas por seus adversários políticos de Veadinho. Dentre eles João Bié que era o sub delegado na ocasião, comandando um bando de jagunços. Na verdade João Bié apenas imitava as atitudes praticadas pelos jagunços de Joaquim Cândido com os adversários políticos dos bacuraus de Imbé.
O DIABO DE TABAJARA.
No final dos anos 90 do século XX, o diabo começou a rondar a casa de um candidato a Pastor. Volta e meia, sua casa era bombardeada com pedras e meio tijolos. O povo estava em polvorosa. Por todo lado, em todas as rodas de bate-papo, só se falava no “Diabo” que estava atormentando um irmão que queria ser Pastor de uma Igreja, jogando pedras em suas casa.
Uns diziam que era o “Chupa-cabras, inclusive, que o haviam visto jogando pedras. Outros diziam ser um ET e que também o teriam visto.
Um belo dia fui passear em Tabajara e tomei conhecimento do fato. Quando chegou a tarde - ora costumeira do dito cujo atentar o “Quase Pastor”, lá estava eu. Claro que não acredito em tais baboseiras. Mas, não é que o “danado” não respeitou minha incredulidade. Fez suas traquinagens comigo ali presente. Eu estava bem na frente à casa quando ele atacou. Imediatamente, entrei para dentro da casa e ele continuou. Pensei: Esse danado ta brincando comigo. Eu não acredito nisso que está acontecendo. Passei a sondar algumas pessoas, eles disseram que apenas ouvia as pedras caírem e que o “projeto de pastor” morava com seu pai e que mesmo com eles sendo vigiados - a meu conselho – as pedras continuavam caindo. Perguntei se as pedras caiam quando os dois estavam juntos fora da casa, responderam que não, que sempre ficava um deles no interior da casa. Voltei a entrar dentro da casa e ao olhar para o telhado, constatei que havia muitas marcas e vestígios nas ripas e nas telhas, conseqüentemente algumas pedras foram arremessadas de dentro para fora, o que justificava, algumas pedras terem atingido uma das casas vizinha. Olhei para o chão e notei que algumas pedras e meio tijolos que eu havia visto anteriormente, não mais estavam na mesma posição. Naquele momento espatifou um torrão no telhado, corri lá fora e – algumas pessoas pensaram que corri com medo e até fizeram gozações - constatei que o pai do quase Pastor não estava presente e assim que ele chegou notei que suas mãos estavam sujas de terra. Pedi alguém para me ajudar a vigia-los. Não deu outra, o projeto de Pastor adentrou a casa, e nós o acompanhamos, Quando ele arremessou uma pedra nós o agarramos e trouxemos para fora. Conclusão: desmascaramos o “Diabo Pai” e o “Diabo Pastor, filho”.
NÓIS É MACAQUEIRO.
Eu já havia dado por encerrado esses Casos e Causos, quando me apareceu sorrateiramente, nada mais, nada menos que o meu “alter ego” , amigo, Amin Nésio Da Lua. Logo pressenti que queria me contar alguma coisa. Então adiantei-me e disse: Da Lua, vai desembuchando. Ele então, começou: -- Sr. Neuraci, eu ouvi dizer que o senhor está escrevendo um livro de histórias engraçadas, o senhor sabe que eu sou lá do Valão, eu nasci em Tabajara. Eu tenho uma história que talvez vai lhe interessar. - Liguei o gravador e Amin Nésio passou a narrar sua história:
--Sr. Neuraci é a primeira vez que estou contando essa história, eu fico meio envergonhado. Ela parece mentira, mas, é uma verdade, verdadeira.
O senhor sabe que em minha juventude, eu morava em Brasília. E mais ou menos em 1960/70, quando eu assistia àqueles filmes, que tinha telefone dentro do carro, (uns telefones todo preto e grande), eu ficava fascinado, cheio de admiração com aquela modernidade.
No final da década de 80 ou não sei se início de 90, quando começou a surgir o Celular, quis adquirir um, só não o fazendo, devido ao preço e também da conta muito alta. Com a expansão e popularização do mesmo, bem como o barateamento da conta, encorajei-me e, cerca de uns seis anos atrás - em 1999 - parti para Caratinga, chegando em uma loja, fui logo dizendo para a moça: eu quero comprar um Celular, mas quero do mais barato, é só para fazer e receber ligações. A moça prontamente me atendeu, pediu documentos, anotou meu endereço e o habilitou. Cheguei em casa, cheio de vaidade com o meu Celular, então descobri que aqui em Inhapim ele não funcionava, era incompatível com a operadora - só tinha uma na ocasião - fiz minhas reclamações e o habilitei para a operadora local. Novamente, outra descoberta, ele era cheio daquela parafernália de botões complicados, possuía quase todas aquelas frescuras dos celulares mais caros. Um belo dia ele tocou, até parar o carro e descobrir qual botão apertar para atender, encerrou a chamada. Desisti da modernidade e o encostei. Só não havia, ainda, descoberto, é o desinteresse de minha esposa e meus filhos, pelo mesmo. Cerca de dois anos atrás, dei-o para minha filha adolescente, depois de uns três dias ela o devolveu. Foi aí que fiquei sabendo o motivo do desinteresse de minha família pelo mesmo. O modelo muito feio. Celular tem que ser bonito e caro, é modismo, é como se fosse uma jóia e da “status”.
O feio continuou encostado, minha esposa adquiriu um moderno e bonito. Um dia desses, em uma de minhas idas para Valadares, com meu cunhado -Professor, muito conceituado, na Cidade -, não sei porque cargas d’água eu levei o Celular, quando estávamos chegando em Valadares, meu cunhado pediu para parar próximo a um orelhão que ele necessitava telefonar. Eu, todo exibido, fui logo dizendo: não precisa, é só usar o Celular. Ele, então, começou a apertar os botões, aperta um, aperta outro, até desistir, peguei o Celular, apertei alguns botões e nada, também não consegui. Comentei. Que vergonha para nós! Meu filho de apenas 04 anos, sabe usar esse trem e dias atrás eu vi, em Caratinga, um catador de lixo, fazendo uso de um celular.
Tive que parar no orelhão para ele telefonar. Quando cheguei em casa e contei para a minha esposa -Bacharela em direito, formada em letras, com curso de pós-graduação e mestrado e, preparando para um doutorado- ela caiu na gargalhada. No dia seguinte, fomos para Coronel Fabriciano, no trajeto o Celular da mesma começou a tocar, ela, toda apavorada, procura aqui, procura ali, revirou a bolsa, quando o encontrou, já era tarde, tinha parado de chamar. Ela então comentou: -“Nóis é mesmo macaquero, ainda num acustumemo com a modernidade, ainda num aprendemo a usá Celulá”-.
O pior é que depois de tudo isso, encorajei-me, novamente e adquiri outro Celular, desta feita um moderno e bonito. Depois de vários dias de tentativas no sentido de familiarizar-me com o maldito, conclui que esse trem não combina comigo e dei-o para minha filha.
FIM DO MUNDO.
Em 1979 houve um grande índice de densidade demográfica causando enchentes em quase toda a nossa região. As partes mais baixas de Tabajara foram atingidas, inclusive, algumas pontes foram arrancadas, cairam algumas casas e barreiras nas estradas. Tabajara ficou ilhada, começou a faltar alimentos. As autoridades de Inhapim entraram em contato com a Defesa Civil e veio um Helicóptero, trazendo alimentos e remédios, (foi o primeiro Helicóptero que andou por nossas bandas), só que o piloto errou nas coordenadas e foi parar em São Tomé. Quando ele começou a sobrevoar o local, os moradores ficaram apavorados e começaram a dizer que era o fim do mundo e começaram a se esconderem, fechando as portas e janelas das casas, outros correram para o mato. O comandante da aeronave só conseguiu falar com um bebum conhecido como Irineu Paulista que estava nas proximidades do local do pouso - campo de futebol -. O comandante da aeronave perguntou para o mesmo se estavam precisando de alguma coisa, se estava faltando alimentos e remédios. O bebum de uma forma autoritária respondeu: - Não, aqui não ta faltando nada -. O comandante, pensando tratar-se de um trote, embarcou em seu Helicóptero e retornou para Belo Horizonte.
CONSIDERAÇÕES FINAIS.
Escrevi esses Casos e Causos..., apenas para resgatar algumas histórias, acontecidas ao longo dos tempos com pessoas de nosso Tabajara e adjacências.
Por serem histórias contadas de boca em boca, são passíveis de algumas distorções e até mesmo não serem verdadeiras. Existem muitas outras, tão engraçadas como essas contadas por aí, porém, não chegaram ao meu conhecimento. Portanto se o leitor conhecer alguma é só contatar comigo que serão incluídas na próxima edição.
neuracivieira@hotmail.com
neuracihvieira@gmail.com
Neuraci Hébio Vieira.
domingo, 21 de setembro de 2008
quinta-feira, 11 de setembro de 2008
PRIMEIROS MORADORES 4º
TENENTE VIEIRA MEU AVÔ PATERNO E FAMILIA
Meu avô paterno José dos Santos Vieira – Tenente Vieira, como era conhecido – nasceu em Portugal. Seus pais e outros parentes imigraram para o Brasil quando ele ainda era criança, e fixaram residência em Campos e Macaé, no estado do Rio de Janeiro. Ele, ainda jovem, fugiu de casa e, anos mais tarde, veio a morar em Manhuaçu (MG), onde se tornou comerciante e chefe político, possuindo várias tropas de burros e fazendo intercâmbio comercial em várias regiões. No início da década de 90, do século XIX, seu partido político foi derrotado e ele teve que fugir às pressas, perdendo quase tudo o que possuía. Conseguiu salvar apenas o que pôde transportar no lombo de seus animais, indo morar em Imbé. No início da década de 20 do século XX, Vieira teve nova-mente que se mudar devido a desalinho político com o então chefe da região, Joaquim Cândido. Foi somente nessa época que ele veio a fixar residência em Tabajara, que ainda se chamava Veadinho. Com ele, veio sua esposa Arminda Augusta Vieira e os filhos Fidelcino, Raimundo, Antônio (meu pai), Jovelina, Maria, Zulmira e Norvinda.
Os companheiros políticos de Vieira também tiveram de deixar Manhuaçu por volta de 1890, mas – ao contrário dele – mudaram-se com suas famílias de Manhuaçu diretamente para Veadinho, jornada em que gastaram 21 dias de viagem. Eram eles: Antônio Guimarães Dias (Totonho), com sua esposa Francisca de Jesus (tia Chica, irmã de minha avó paterna) e os filhos Amerquinho Guimarães, Natal Antônio Dias (Nato), Arminda e Evangelina (esposa do velho Gerônimo) (Velho Gerônimo era avô da Ainda da Pensão); Saturnino Inácio Ferreira, com sua esposa Ermelina Adriana de São José (também irmã de minha avó paterna); Francisco Xavier (tio Chico, irmão de minha avó paterna), com sua esposa Filomena; Gabriel Xavier (tio Bié, também irmão de minha avó paterna), com sua esposa Conceição. Minha avó Arminda e seus irmãos Francisco, Gabriel, Francisca e Ermelinda eram descendentes da família Xavier, de Abre Campo. Meu tio Francisco (Chico) a princípio residiram na Cabeceira do Córrego da Conceição, (Foi proprietário da Fazenda, hoje pertencente a Ainda da Pensão. Tio Gabriel (Bié) foi proprietário do Terreno conhecido com dos Cordeiros, município de Ipanema, ainda existe uma descendente do mesmo, por nome Geraldina na Areia Branca. A maioria desses irmãos de minha avó, bem como seus descendentes mudaram (na década de 30, para Padre Ângelo e João Pinto e, de lá, para Floresta, no norte de Minas.
Meu avô paterno José dos Santos Vieira – Tenente Vieira, como era conhecido – nasceu em Portugal. Seus pais e outros parentes imigraram para o Brasil quando ele ainda era criança, e fixaram residência em Campos e Macaé, no estado do Rio de Janeiro. Ele, ainda jovem, fugiu de casa e, anos mais tarde, veio a morar em Manhuaçu (MG), onde se tornou comerciante e chefe político, possuindo várias tropas de burros e fazendo intercâmbio comercial em várias regiões. No início da década de 90, do século XIX, seu partido político foi derrotado e ele teve que fugir às pressas, perdendo quase tudo o que possuía. Conseguiu salvar apenas o que pôde transportar no lombo de seus animais, indo morar em Imbé. No início da década de 20 do século XX, Vieira teve nova-mente que se mudar devido a desalinho político com o então chefe da região, Joaquim Cândido. Foi somente nessa época que ele veio a fixar residência em Tabajara, que ainda se chamava Veadinho. Com ele, veio sua esposa Arminda Augusta Vieira e os filhos Fidelcino, Raimundo, Antônio (meu pai), Jovelina, Maria, Zulmira e Norvinda.
Os companheiros políticos de Vieira também tiveram de deixar Manhuaçu por volta de 1890, mas – ao contrário dele – mudaram-se com suas famílias de Manhuaçu diretamente para Veadinho, jornada em que gastaram 21 dias de viagem. Eram eles: Antônio Guimarães Dias (Totonho), com sua esposa Francisca de Jesus (tia Chica, irmã de minha avó paterna) e os filhos Amerquinho Guimarães, Natal Antônio Dias (Nato), Arminda e Evangelina (esposa do velho Gerônimo) (Velho Gerônimo era avô da Ainda da Pensão); Saturnino Inácio Ferreira, com sua esposa Ermelina Adriana de São José (também irmã de minha avó paterna); Francisco Xavier (tio Chico, irmão de minha avó paterna), com sua esposa Filomena; Gabriel Xavier (tio Bié, também irmão de minha avó paterna), com sua esposa Conceição. Minha avó Arminda e seus irmãos Francisco, Gabriel, Francisca e Ermelinda eram descendentes da família Xavier, de Abre Campo. Meu tio Francisco (Chico) a princípio residiram na Cabeceira do Córrego da Conceição, (Foi proprietário da Fazenda, hoje pertencente a Ainda da Pensão. Tio Gabriel (Bié) foi proprietário do Terreno conhecido com dos Cordeiros, município de Ipanema, ainda existe uma descendente do mesmo, por nome Geraldina na Areia Branca. A maioria desses irmãos de minha avó, bem como seus descendentes mudaram (na década de 30, para Padre Ângelo e João Pinto e, de lá, para Floresta, no norte de Minas.
PRIMEIROS MORADORES 3º
Ainda no início do século XX, também vindos de Abre Campo, chegaram à região os Bastiana: Antônio (Antônio Bastiana), Joaquim (Joaquim Bastiana) e Francisco Sebastião dos Reis, que eram carapinas (carpinteiro/marceneiro) e parentes de Juca Maquinista.
Na mesma época e procedentes do mesmo local, vieram os Januário: Antônio, Joaquim e Sebastião. Eram tropeiros e comerciantes, e tornaram-se proprietários das terras hoje pertencentes aos herdeiros de Antônio Teófilo. Mais tarde, os três irmãos mudaram-se para o Baixio, onde se tornaram jagunços a serviço de Messias Gonçalves.
Paulo Tavares da Silva e sua esposa Maria Teixeira da Silva (Maricota Tavares) mudaram-se para Tabajara no início do século XX, vindos de Imbé. Vieram acompanhados dos filhos Cezalpino de Paula Tavares e Alice Tavares França, ambos já casados. Dona Maricota, de forte personalidade, foi a proprietária da pensão Veadinho, localizada na atual Avenida Lindolfo Barbosa Vieira, nº 61. Esse imóvel hoje é a residência de Candinho. Conta-se inclusive que, na época em que a pensão funcionava, havia um veado pintado na fachada do prédio.
A esposa de Cezalpino chamava-se Aristotelina e pertencia à família Gomes. Cezalpino foi chefe político dos Bacuraus e sua irmã Alice era casada com Afonso Gomes França, primeiro escrivão de Tabajara.
Após a revolução de 30, a família Tavares mudou-se para Belo Horizonte, e a pensão Veadinho passou a ser de propriedade de Sebastião Honório.
Na mesma época e procedentes do mesmo local, vieram os Januário: Antônio, Joaquim e Sebastião. Eram tropeiros e comerciantes, e tornaram-se proprietários das terras hoje pertencentes aos herdeiros de Antônio Teófilo. Mais tarde, os três irmãos mudaram-se para o Baixio, onde se tornaram jagunços a serviço de Messias Gonçalves.
Paulo Tavares da Silva e sua esposa Maria Teixeira da Silva (Maricota Tavares) mudaram-se para Tabajara no início do século XX, vindos de Imbé. Vieram acompanhados dos filhos Cezalpino de Paula Tavares e Alice Tavares França, ambos já casados. Dona Maricota, de forte personalidade, foi a proprietária da pensão Veadinho, localizada na atual Avenida Lindolfo Barbosa Vieira, nº 61. Esse imóvel hoje é a residência de Candinho. Conta-se inclusive que, na época em que a pensão funcionava, havia um veado pintado na fachada do prédio.
A esposa de Cezalpino chamava-se Aristotelina e pertencia à família Gomes. Cezalpino foi chefe político dos Bacuraus e sua irmã Alice era casada com Afonso Gomes França, primeiro escrivão de Tabajara.
Após a revolução de 30, a família Tavares mudou-se para Belo Horizonte, e a pensão Veadinho passou a ser de propriedade de Sebastião Honório.
quarta-feira, 10 de setembro de 2008
PRIMEIROS MORADORES 2º
PAULINO LEANDRO E FAMILIA.
No final do século XIX, chegou à região Leandro José dos Santos, que ocupou as terras onde atualmente funciona a olaria de José Belmiro, em Tabajara.
Através dos irmãos Souza, Leandro se informou sobre como chegar à fazenda dos Calhau, em Santa Constância, para onde se mudou, abandonando suas posses em Tabajara.
Minha avó contava que Leandro era filho de uma índia Puri capturada, ainda criança, por membros da família Mendes (a qual ela e a esposa de Leandro pertenciam, pois eram primas), que faziam parte da 3ª Divisão Militar do Rio Doce, sediada em Abre Campo. Índios não possuem sobrenome, por isso ao ser batizado Leandro recebeu como sobrenome José, por ser dia de São José, e “dos Santos”, porque era comum na época dar tal sobrenome àqueles que não eram reconhecidos pelos pais.
Paulino José Leandro, filho de Leandro José do Santos, morava em Abre Campo, mas conhecia a região de Tabajara desde o final do século XIX. Mudou-se para cá em 1906, trazendo sua mudança, em carros de boi e no lombo de animais de carga, acompanhado da esposa Maria Godinho Mendes, dos filhos e empregados.
Paulino e Maria eram meus avós maternos. Minha avó contava que no interior da mata, naquela época, havia tantos animais ferozes – como onças, cobras, caititus, cachorros do mato etc. – que minha mãe, então criança de colo, era mantida em um balaio amarrado por cipós e suspenso do chão para que ela não fosse atacada pelos bichos.
Paulino tomou posse de terras hoje conhecidas como fazenda dos Dutra. Nelas construiu, às pressas, uma morada provisória com esteios de imbaúba, paredes de taquara e bambu, e cobertura de capim sapé e folhas de palmito. Após instalar a família e empregados, partiu à procura de seu pai Leandro, encontrando-o na fazenda do Coronel Calhau. Dali os dois foram para Caratinga, onde fizeram uma procuração dando poderes a Paulino para se desfazer dos bens da família deixados em Abre Campo.
Assim que retornou de Abre Campo, Paulino continuou a demarcar e adquirir terras em Tabajara, incorporando-as às que já possuía. Seus domínios se estenderam até a fazenda hoje pertencente aos descendentes de José Placides, onde construiu um sobrado para ser a sede da propriedade.
Outros membros da família de Paulino vieram para a região, como seus irmãos Virgílio, Faustino e Leontino José Leandro, que mais tarde se mudaram para João Pinto, município de Conselheiro Pena. Da família da esposa de Paulino, vieram para Tabajara sua sogra Maria Clara de Jesus, seus cunhados Sebastião (que depois se mudou para Ariranha, no norte de Minas), Antônio, Nicolau (pai de Joaquim Godinho), Silvério Augusto e Luzia Godinho Mendes. Essa última fugiu de casa para se casar com Anacleto Corrêa.
Vale lembrar que Paulino Leandro chegou a possuir outras fazendas. Dentre elas, havia uma propriedade a cerca de quatro quilômetros da cachoeira de Tabajara que, na época, era conhecida como fazenda do Chico Velho, por ter pertencido anteriormente a um membro da família Lúcio, cujo apelido era Chico Velho. Hoje essa fazenda pertence a Wilson André.
Paulino passou a vender suas propriedades em Veadinho para adquirir outras em diferentes regiões. Comprou uma fazenda no norte de Minas, no município de Galiléia, hoje Baixio, denominada “Fazenda do Rapa”, que mais tarde vendeu para comprar várias casas – incluindo o prédio do Fórum – na Rua Prefeito Anastácio, em Mantena.
No final do século XIX, chegou à região Leandro José dos Santos, que ocupou as terras onde atualmente funciona a olaria de José Belmiro, em Tabajara.
Através dos irmãos Souza, Leandro se informou sobre como chegar à fazenda dos Calhau, em Santa Constância, para onde se mudou, abandonando suas posses em Tabajara.
Minha avó contava que Leandro era filho de uma índia Puri capturada, ainda criança, por membros da família Mendes (a qual ela e a esposa de Leandro pertenciam, pois eram primas), que faziam parte da 3ª Divisão Militar do Rio Doce, sediada em Abre Campo. Índios não possuem sobrenome, por isso ao ser batizado Leandro recebeu como sobrenome José, por ser dia de São José, e “dos Santos”, porque era comum na época dar tal sobrenome àqueles que não eram reconhecidos pelos pais.
Paulino José Leandro, filho de Leandro José do Santos, morava em Abre Campo, mas conhecia a região de Tabajara desde o final do século XIX. Mudou-se para cá em 1906, trazendo sua mudança, em carros de boi e no lombo de animais de carga, acompanhado da esposa Maria Godinho Mendes, dos filhos e empregados.
Paulino e Maria eram meus avós maternos. Minha avó contava que no interior da mata, naquela época, havia tantos animais ferozes – como onças, cobras, caititus, cachorros do mato etc. – que minha mãe, então criança de colo, era mantida em um balaio amarrado por cipós e suspenso do chão para que ela não fosse atacada pelos bichos.
Paulino tomou posse de terras hoje conhecidas como fazenda dos Dutra. Nelas construiu, às pressas, uma morada provisória com esteios de imbaúba, paredes de taquara e bambu, e cobertura de capim sapé e folhas de palmito. Após instalar a família e empregados, partiu à procura de seu pai Leandro, encontrando-o na fazenda do Coronel Calhau. Dali os dois foram para Caratinga, onde fizeram uma procuração dando poderes a Paulino para se desfazer dos bens da família deixados em Abre Campo.
Assim que retornou de Abre Campo, Paulino continuou a demarcar e adquirir terras em Tabajara, incorporando-as às que já possuía. Seus domínios se estenderam até a fazenda hoje pertencente aos descendentes de José Placides, onde construiu um sobrado para ser a sede da propriedade.
Outros membros da família de Paulino vieram para a região, como seus irmãos Virgílio, Faustino e Leontino José Leandro, que mais tarde se mudaram para João Pinto, município de Conselheiro Pena. Da família da esposa de Paulino, vieram para Tabajara sua sogra Maria Clara de Jesus, seus cunhados Sebastião (que depois se mudou para Ariranha, no norte de Minas), Antônio, Nicolau (pai de Joaquim Godinho), Silvério Augusto e Luzia Godinho Mendes. Essa última fugiu de casa para se casar com Anacleto Corrêa.
Vale lembrar que Paulino Leandro chegou a possuir outras fazendas. Dentre elas, havia uma propriedade a cerca de quatro quilômetros da cachoeira de Tabajara que, na época, era conhecida como fazenda do Chico Velho, por ter pertencido anteriormente a um membro da família Lúcio, cujo apelido era Chico Velho. Hoje essa fazenda pertence a Wilson André.
Paulino passou a vender suas propriedades em Veadinho para adquirir outras em diferentes regiões. Comprou uma fazenda no norte de Minas, no município de Galiléia, hoje Baixio, denominada “Fazenda do Rapa”, que mais tarde vendeu para comprar várias casas – incluindo o prédio do Fórum – na Rua Prefeito Anastácio, em Mantena.
terça-feira, 9 de setembro de 2008
PRIMEIROS MORADORES
Através de relatos de antigos moradores de Tabajara, sabe-se que os primeiros a fixar residência na região, ainda no século XIX, foram José Rodrigues de Souza e seus irmãos Delfino e Targino. Eram naturais de Cataguazes e filhos de Francisco Silvério de Souza e de Maria José Rodrigues de Souza. Segundo contava o próprio José de Souza, eles foram trazidos ainda crianças por seus pais (que fugiam de algum tipo de conflito) para a Fazenda do Coronel Calhau, em Santa Constância, onde se instalaram.
Em 1888, já adultos, José, Delfino e Targino desentenderam-se com a madrasta e saíram de casa, deixando para trás o pai e os demais irmãos do segundo casamento de Francisco Silvério de Souza. Partiram abrindo picadas na mata, até atingir a margem do Rio Manhuaçu, o qual subiram, chegando a uma cachoeira, onde construíram uma jangada com taquaras para atravessar o rio. Tomaram posse do terreno que ficava na outra margem e que atualmente pertence a Edmar Paulino. Nele construíram sua primeira morada de pau-a-pique, repartida por esteiras de taquara e coberta por capim sapé e folhas de palmito. Naquela época, adquiriam gêneros alimentícios em Santo Antônio do Rio José Pedro, hoje Ipanema.
Alguns anos depois, José de Souza casou-se com Maria Bárbara de Jesus, membro das famílias Paula e Mendes, de São João do Matipó e Abre Campo, e prima de minha avó Maria Godinho Mendes.
Em 1902, o casal, juntamente com Delfino e Targino, mudou-se para a região do Córrego do Suísso, onde fixou residência. Próximo à sede da fazenda de José de Souza, foram encontrados vestígios de uma antiga tribo indígena.
Delfino e Targino mudaram-se mais tarde para o norte de Minas. Seus irmãos Antônio, Marciano e Ozório, nascidos do segundo casamento de seu pai, só apareceram em Veadinho na década de 20, tendo os dois primeiros se mudado para o norte, ficando apenas Ozório na região. Descendentes de Ozório, como seu neto Carmo, ainda vivem em Tabajara.
Em 1888, já adultos, José, Delfino e Targino desentenderam-se com a madrasta e saíram de casa, deixando para trás o pai e os demais irmãos do segundo casamento de Francisco Silvério de Souza. Partiram abrindo picadas na mata, até atingir a margem do Rio Manhuaçu, o qual subiram, chegando a uma cachoeira, onde construíram uma jangada com taquaras para atravessar o rio. Tomaram posse do terreno que ficava na outra margem e que atualmente pertence a Edmar Paulino. Nele construíram sua primeira morada de pau-a-pique, repartida por esteiras de taquara e coberta por capim sapé e folhas de palmito. Naquela época, adquiriam gêneros alimentícios em Santo Antônio do Rio José Pedro, hoje Ipanema.
Alguns anos depois, José de Souza casou-se com Maria Bárbara de Jesus, membro das famílias Paula e Mendes, de São João do Matipó e Abre Campo, e prima de minha avó Maria Godinho Mendes.
Em 1902, o casal, juntamente com Delfino e Targino, mudou-se para a região do Córrego do Suísso, onde fixou residência. Próximo à sede da fazenda de José de Souza, foram encontrados vestígios de uma antiga tribo indígena.
Delfino e Targino mudaram-se mais tarde para o norte de Minas. Seus irmãos Antônio, Marciano e Ozório, nascidos do segundo casamento de seu pai, só apareceram em Veadinho na década de 20, tendo os dois primeiros se mudado para o norte, ficando apenas Ozório na região. Descendentes de Ozório, como seu neto Carmo, ainda vivem em Tabajara.
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